segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uma realidade além das obras

Os transtornos causados pelas obras na Av. Antônio Carlos, região da Lagoinha, demonstram mudanças como a presença de moradores de rua e alterações nos pontos comerciais


O morador de rua Fabiano Francisco, de 28 anos,
considera a obra importante para Belo Horizonte


Enquanto homens e máquinas trabalham nas obras de duplicação da Av. Antônio Carlos, além dos transtornos causados ao trânsito de veículos, às pessoas que passam pelo local e ao comércio, há uma outra face que pode passar desapercebida ou, talvez, ser considerada normal: no meio dos escombros das áreas já demolidas, moradores de rua constroem barracos e, aos poucos, se juntam a outras pessoas para dividir as novas moradias.

É o caso de Fabiano Francisco Oliveira, 28 anos, que explica a sua situação. “Nós viemos descendo olhando as casas, pegando bicos de trabalho e vendo se tinham dono para a gente morar nelas. Nós moramos na grama entre os prédios e como a policia não estava deixando a gente ficar lá, nós fomos morar no estacionamento na Antonio Carlos esquina com Rua Formiga, como derrubaram lá, agora a gente fica morando de casa em casa até derrubarem”.

Fabiano, que mora com sua esposa Sheila Renê, de 34 anos, e mais outras seis pessoas, afirma que morar em meio às obras pode trazer um pouco de insegurança. “O único perigo que vejo é o risco de uma chacina. Alguém jogar álcool ou gasolina na gente. Fora isso, não existe risco nenhum”, afirma ele, que pretendia ficar no local por, no máximo, mais um mês. “Depois disso eles devem tirar a gente daqui, aí eu quero morar de aluguel. Mas morar de aluguel e sozinho, ainda por cima na Pedreira (Prado Lopes), não dá não”, conclui.

Fabiano considera a obra importante para o desenvolvimento da cidade e até mesmo para as pessoas que vivem na mesma situação que a dele. “Ela é importante porque gera empregos diretos e indiretos, tanto de carteira assinada como para nós aqui moradores de rua. Como por exemplo, a construção aqui ao lado, a própria prefeitura compra as madeiras, telhas, barras de ferros e outras coisas que podem ser reaproveitadas na mão da gente”, afirma ele sobre a coleta de materiais que realizam em meio ao que sobrou das demolições.

Falando da reação das pessoas que passam próximas ao barraco que ele construiu, Fabiano diz que algumas têm medo e outras não. “No meu modo de ver, aquelas que tem raciocínio se sentem seguras. Porque nós já cansamos de flagrar gente tentando roubar senhoras idosas e pegamos para ‘dar um pau’. Mas é claro que cabeça dos outros é terra que ninguém pisa. Tem alguns que chegam, olham sem saber se voltam ou se vem. Eu mesmo não confio nas pessoas que estão aqui e tinha medo antes de vir para as ruas”, completa.

Fabiano conta que, no dia-dia do barraco, ficam apenas oito pessoas que dividem as responsabilidades e até mesmo os problemas. “Às vezes aparece alguns para dividir o café e a marmita do almoço. Outros vem mesmo ‘encher o saco’ ou usar drogas, a gente é que tem de se controlar”. Quando chove, o barraco não sofre grandes problemas, segundo o morador. “A coberta não molha. Tem uns plásticos no buraco da lâmpada e madeira. O problema da chuva nós conseguimos resolver”, afirma.

Segundo Fabiano, ele mora na rua como consequência da vida devido ao caminho que ele escolheu. “A gente entra em coisa errada, como droga, crime, aí o caminho é esse mesmo”. Sobre o que faria após o término das obras na avenida, o morador de rua é categórico: “No dia 30 eu estou indo para o aluguel, com ou sem as meninas que moram comigo. Se eu estiver sozinho, só com R$ 50 reais a minha mãe vai inteirar o resto e eu estou indo embora daqui. Os outros, cada um por si. Vamos só eu e minha mulher”.


O trabalho da polícia



Dias após a conversa de Fabiano com a equipe de reportagem, ele e seus companheiros tiveram que deixar o barraco que construíram em meio aos escombros de um antigo depósito de materiais de construção, após serem advertidos por policiais militares que atuam na região. O soldado Leandro Guimarães Amorim, da 21ª Companhia de Polícia Militar, do bairro Lagoinha, afirmou que a solicitação de desocupação foi feita por um engenheiro da Prefeitura de BH responsável pela obra. “Os moradores estavam no local há aproximadamente 20 dias”, diz o PM.

A justificativa para que a desocupação fosse realizada era a conclusão dos trabalhos de demolição da obra, que consistem na retirada de escombros e limpeza da área para o prosseguimento das obras de duplicação da Av. Antônio Carlos. “A solicitação foi feita pelo engenheiro devido ao receio de que os moradores causassem problemas. Além disso, eles insistiam em prolongar a permanência deles, usando frases como ‘vamos sair neste horário’, para ficar mais algum tempo”, salienta o policial.

Os moradores tiveram um tempo máximo de 20 minutos para deixar o local. Nenhum dos moradores do bairro fez solicitação à Polícia sobre o comportamento dos ocupadores do barraco. Somente uma estudante da faculdade Facisa, registrou ocorrência: “ela teve a bolsa arrancada por um homem que saiu de forma repentina do local onde dos moradores de rua estavam”, afirma o soldado.

Os policiais da 21ª Companhia de Polícia Militar atuam fazendo rondas no bairro, inclusive na área que compreende a Rua Comendador Nohme Salomão, próximo ao SENAI, e a Rua Adalberto Ferraz, nas proximidaades da praça Vaz de Melo, revezando-se em escalas de seis horas, nos horários das 6h às 10h, das 10h às 16h e de 16h às 22h.

Obras da Lagoinha tiram sono de comerciantes

“Os alunos não atravessam a avenida”. Essa é a reclamação de Edson Wander Bandeira, sócio de uma pequena papelaria que tem como renda principal as cópias tiradas por universitários do UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte).

Após seis anos como vizinhos de muro do Campus Diamantina, na região da Lagoinha, foram forçados a sair do ponto por causa da obras na avenida. De início, tudo bem. Edson Bandeira e seu irmão e sócio, Altair Wilson Bandeira, conseguiram alugar outra lojinha bem em frente à faculdade. Não haveria problemas.

Mas, para a surpresa dos dois, a demanda por seus produtos e serviços caiu cerca de 80 por cento, tirando-lhes o sono e trazendo dificuldades financeiras. “Não esperávamos que fosse tão diferente do lado de cá. O xerox estava sempre lotado. Às vezes, o pessoal até deixava o material quando chegava para a aula e só pegava na saída por causa da fila.” Lembra Edson, acrescentado que “agora dá até sono ficar aqui”.

Além disso, o comerciante se queixa do barulho excessivo das máquinas usadas na reforma da avenida e do trânsito. “Do lado de lá, ficávamos a alguns metros de distancia do fluxo de veículos. Aqui, eles passam praticamente na porta”. Reclama, ainda, do excesso de poeira vindo das escavações.

No entanto, os sócios estão otimistas e acreditam que após o encerramento das obras tudo deve voltar a ser como antes. Acham que o motivo pelo qual os alunos do UniBH não atravessam a avenida para utilizarem os seus serviços é a dificuldade causada pela falta de sinalização e faixa para pedestres. “Depois que estiver tudo pronto, a sinalização ficará melhor e será mais segura a travessia. Tudo deve melhorar”.


Dados sobre a reforma da Antônio Carlos

Desde janeiro, estão em execução as obras do Complexo da Lagoinha. O projeto tem um orçamento de R$ 250 milhões, sendo R$ 190 milhões do Estado e R$ 60 milhões da Prefeitura. O investimento é voltado para alargamento da pista, construção de sete viadutos e desapropriações.

De acordo com o governador Aécio Neves, a duplicação da Antônio Carlos é o primeiro passo conjunto entre o Governo do Estado e a Prefeitura no sentido de adequar a cidade para receber a Copa do Mundo de 2014. “Estamos falando de um corredor que facilita a ligação da cidade com o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, e também com o Aeroporto da Pampulha, além do próprio Complexo Mineirão/Mineirinho. Por isso, a importância desta obra é a razão pela qual o governo resolveu assumi-la. As obras caminham em uma velocidade extraordinária”, conclui.

Pela Antônio Carlos circulam diariamente 85 mil veículos. O alargamento pretende beneficiar os usuários de transporte coletivo com a diminuição do tempo das viagens. Hoje, a avenida possui no trecho em obras apenas uma pista por sentido, com três faixas de rolamento cada uma. Com a ampliação, passará a ter quatro faixas por pista, além de uma terceira pista, com duas faixas exclusivas para o transporte coletivo.

Na altura da rua Rio Novo, haverá um viaduto para complementar o Complexo da Lagoinha, atendendo às interligações do Viaduto Leste e da rua Célio de Castro com a avenida Pedro II, além das ruas Bonfim, Itapecerica e Além Paraíba. Estas ligações ficam disponíveis também para o via duto Oeste e para a avenida Cristiano Machado.

Na rua Formiga, próximo ao conjunto IAPI, os viadutos e soluções viárias em desnível irão promover a interligação do bairro São Cristóvão com os bairros Lagoinha e Bom Jesus. A interseção da rua Araribá, em mão dupla, substituirá a transposição da Antônio Carlos que hoje é feita pela rua Jequitaí, por meio da ligação da rua Serra Negra e imediações, e possibilitará o reposicionamento dos veículos dos bairros Bom Jesus e São Cristóvão, com forte impacto na região do Hospital Belo Horizonte.

A obra de reurbanização da Antônio Carlos prevê ainda a melhoria da iluminação e a construção de passarelas acopladas aos viadutos e semáforos para garantir a segurança dos pedestres. Outra melhoria será no projeto paisagístico, que prevê o plantio de 1.500 mudas de árvores no trecho entre a rua dos Operários e o Complexo da Lagoinha, em substituição às 140 que foram retiradas devido às obras. Ou seja, para cada árvore que foi retirada, mais de dez serão plantadas.


por Fabiana Cristina, Fransisnei Bispo, Letícia Barros e Lucas Ribeiro
com revisão de Patrick Vaz e Wellington Santos

Um comentário:

  1. -Acentuação: Antônio (-1);
    -Cuidado com a repetição;
    -Acentuação: aquelas que têm raciocínio (-1);
    -Acentuação: ou se vêm;
    -Concordância: aparecem alguns (-1);
    -Não se esqueçam de adotar um manual para padronizar o texto;
    -Vírgula entre sujeito e verbo: Somente uma estudante da faculdade Facisa registrou ocorrência (-1);
    -Em citações, não utilizar dois pontos e, em seguida, verbo dicendi. Ou um, ou outro;
    -Boa reportagem. Mais cuidado com a Norma Culta. O que falta em vocês é só mais um pouquinho de atenção.

    Nota Total: 21/25.

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