sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Comércio sobrevive em meio aos escombros

Melhorar o fluxo de veículos, alargar as ruas e trazer maior comodidade a pedestres e motoristas. Estes são alguns motivos apresentados pela prefeitura de Belo Horizonte para as mudanças que seguem no complexo da Lagoinha. No entanto, quem quiser tirar um xerox ou comprar material de construção para sua casa, terá de andar mais um pouquinho e se acostumar ao novo cenário que se apresenta dia após dia. Os comerciantes e comerciários mais do que atentos à nova estrutura, buscam não somente otimizar seus lucros, mas acrescentar à sua nova rotina, alguns dos vestígios presentes antes das obras. Os clientes antigos, por exemplo.




Obras deslocam comércio

“O movimento acabou”, diz o dono de uma papelaria localizada na Avenida Antônio Carlos, Altair Bandeira. “O aluno quer comodidade e não quer atravessar a rua”, acrescenta. O desabafo é explicado através da nova realidade vivida pelo comerciante. Desde julho deste ano ele se viu obrigado a sair do lado do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) para se instalar um pouco mais longe, do outro lado da avenida. Aos poucos, ele foi percebendo que nada era como antes. A distância da faculdade fez com que a procura por seus serviços ficasse menor. Além disso, ele relata os fatores financeiros como outro motivo de preocupação: a nova localização originou aluguel mais caro e quitação adiantada do primeiro ano de instalação.

A urgência de transposição dos pontos comerciais acabou por aumentar o valor do aluguel dos imóveis. Um proprietário de duas salas na região, que não quis se identificar, afirma que atualmente ele chega a cobrar até 20% a mais de seus novos inquilinos. De acordo com ele, isso faz parte de estratégias comerciais, e é necessário aproveitá-las: “Em épocas de mudanças e crise, alguns choram e outros vendem os lenços”, afirma. A procura por suas salas foi tão grande que em um só dia ele chegou a receber cinco propostas diferentes: “Estamos vivendo em um mundo no qual devemos saber aproveitar aquilo que conseguimos adquirir com anos de esforço. Analisei cada telefonema que recebi e, obviamente, escolhi aquele em que eu sabia que teria mais lucro e segurança”.

O prazo dado pela prefeitura de Belo Horizonte para a desocupação dos lugares é de 90 dias. A corrida por outro equivalente, entretanto, vem a partir da falta de informação recebida em tempo hábil por aqueles que pagam aluguel. Altair Bandeira lembra que não se preocupou com as obras assim que elas começaram a se aproximar de seu espaço. Ele explica que o dono do imóvel em que ele estava afirmava que tudo permaneceria inalterado e que seu posto continuaria o mesmo. Não foi o que aconteceu. Um mês antes ele se viu envolvido em uma série de papéis e em decisões que iriam afetar o seu negócio. “Agora que já tive que pagar o primeiro ano, vou ficar nesta nova loja. Mas depois disso, se as coisas continuarem assim, terei que sair deste ponto e procurar outro”.

Nesta hora, o que conta muito é a fidelização do cliente. Em estabelecimentos nos quais o consumidor não é simplesmente um transeunte tomado por um chamariz momentâneo, a tendência é que o número de vendas não diminua. É o que afirma um vendedor de uma loja de materiais de construção, Rodrigo Vieira. Segundo ele, o movimento continua o mesmo, uma vez que os clientes que compram este tipo de produto buscam atendimento e confiabilidade, sendo indiferente a mudança de uma rua para outra. A loja, que estava há 45 anos na Avenida Antônio Carlos, mudou para a Rua Itapecerica. O lugar menor, todavia, exigirá que logo que acabem as obras, parte dos produtos sejam transportados para o seu lugar de origem.

A publicitária Ana Dias aposta na ousadia de poder mudar todo o modo produtivo quando se percebe que ele não supre as expectativas. Para tanto, ela acha indispensável que os comerciantes saibam se adaptar ao novo tipo de cliente. No caso de Altair Bandeira, que começa a presenciar a entrada de um novo perfil de consumidor, que não compreende mais só os alunos da faculdade, Ana Dias recomenda: “Eu sempre digo que o melhor a se fazer é saber olhar o que você vende e para quem vende. Quem muda tem que enfrentar um novo público, e quando o público é externo, o desafio é maior, mas não impossível. Colocar cartazes grandes e fazer promoções pode ser uma alternativa. Ninguém tem preguiça de atravessar a rua se falarmos em economia de dinheiro em detrimento de um gasto minimamente maior de tempo”, conclui.

Os consumidores se dizem atentos às mudanças e afirmam que não é somente o tempo ou a distância que os atrapalha a buscar lugares que estavam acostumados a freqüentar para efetuar suas compras. De acordo com a estudante Larissa Gomes, o problema engloba outra série de fatores: “Há muito tempo eu digo que a faculdade precisa de uma passarela em frente. Atravessar ali é muito perigoso e com as obras parece que ficou pior. Os ônibus param e tampam nossa passagem”. Ela explica que às vezes prefere recorrer à outros estabelecimentos para que não seja necessário passar entre as obras. “Outro dia fui passar dentro de um lugar cheio de barro, e, como estava de salto, mal conseguia andar. Não tenho paciência de andar ali”.

Quem passa pelas ruas, às vezes, observa somente uma porção de buracos e terra. Torna-se difícil perceber a presença de algumas lojas ou estabelecimentos alimentícios entre os terrenos vazios e mau cheirosos. A diarista Clotilde Santos, ao fazer sua primeira faxina em uma casa no local, diz ter tido dificuldade em encontrar um lugar para fazer um lanche ao sair do serviço. “Eu saí com fome, observei em volta e só tinha terra vermelha, que deixa o pé da gente vermelhinho. Fiquei parada tentando encontrar um lugar e achei que não tinha. Um moço no ponto de ônibus que me mostrou, mas eu fiquei com nojo de comer no meio da poeira”, diz.

O desafio de se fazer visível, captar novos clientes e conservar os antigos sustenta um novo ritmo de trabalho que requer não somente mais horas de participação ativa no comércio, pensando e desenvolvendo ações, mas também uma nova estrutura. Um negócio deve ser pensado em termos econômicos e sociais, de acordo com a publicitária Ana Dias. E, para isso, ela acha fundamental averiguar o que as novidades geram empiricamente: “Não é só gente. Tem que analisar o espaço físico, as sensações que ele provoca, as cores das paredes que mudaram. Tem que se pensar em tudo que muda, absolutamente”. E dá uma dica: “Nunca observe as mudanças como algo negativo. As ideias surgem de pontos conflituosos”, conclui.

Informalidade x obras: os dois lados da história

O comércio formal não foi o único afetado pelas obras no complexo da Lagoinha, mas também o informal, que abrange a compra, venda e troca de qualquer produto não institucionalizado. Ou seja, que não segue as regras e leis que regem o comércio formal. São os conhecidos camelôs ou os catadores de papel, papelão, alumínio etc. As obras no local afetaram tanto positiva quanto negativamente esse comércio.

Alguns trabalhadores informais perderam espaço de trabalho pelo aumento do número de ambulantes ou tiveram que procurar outra fonte de renda para o seu sustento. Esse é o caso do catador de alumínio Antônio Gonçalves, 29 anos. “O comércio anda muito fraco porque com as obras aumentou muito o número de catadores”, afirma Antonio. “Antes eram poucos, eu e mais uns quatro, cinco, porém agora toda hora que você passa está cheio deles por todo lugar, principalmente pela manhã, que é a melhor hora para achar materiais. Aí acaba que a gente que trabalha lá há muito tempo, tem que arrumar outra forma de ganhar dinheiro, pedir nos ônibus, por exemplo, como tenho feito” conta.


Carrinho de Antônio Gonçalves: hoje vazio

Segundo Antônio, o aumento de catadores se deve ao fato de que, como cresceram os locais abertos, tais como fossas, buracos etc, as pessoas também jogam mais lixo nesses locais, principalmente latinhas de cerveja e refrigerante. Assim, quem trabalha com esses produtos migra para os lugares onde eles se encontram em maiores quantidades, como ocorre agora na Lagoinha.

“Isso prejudica muito a gente. É injusto, porque eu sempre fui catador aqui, e, agora eles chegam e ocupam nosso lugar e isso faz com que a gente consiga catar pouco alumínio e venda pouco também”, diz o catador. “As fábricas que compram o alumínio também estão aproveitando a situação, porque como tem muito catador agora, eles pagam pouco pelo quilo. Quando a concorrência aumenta, o preço do quilo diminui, porque se você não quer vender, tem outro que vai vender”. Ele acrescenta: “O que antes dava pra bancar minha família pela semana toda, não está dando mais nem pra um dia direito. Às vezes passamos fome e temos que pedir ajuda para os nossos vizinhos”, finaliza.

Porém, não é só para o mal que as obras interferem na vida dos comerciantes. Elas também possibilitaram o surgimento de novos campos de trabalho. A aposentada Maria de Lourdes, 62 anos, é um exemplo disso. Ela viu nas obras uma nova possibilidade de trabalho e aumento de sua renda, e agora vende marmitas que faz em casa, e entrega nas redondezas da Lagoinha.


Neto de Maria de Lourdes em mais um dia de trabalho

“Assim que as obras começaram e que iniciou o quebra-quebra das ruas, vi uma grande chance de trabalho para mim. Como sempre cozinhei e gosto disso, pensei que as pessoas não iam querer ficar subindo e descendo o tempo todo para comprar comida, então resolvi fazer marmitas e pedir para meu neto entregar nas casas”, explica.

De acordo com Maria, a estratégia foi extremamente lucrativa. As pessoas querem comodidade, por isso preferem ligar e pedir as marmitas para serem entregues do que ir aos restaurantes almoçar ou jantar. “O que ganho com minhas marmitas é mais do que o meu salário de aposentada. Chego a tirar mais de 100 reais por semana só com essas vendas”, diz.

Quando perguntada se depois que terminarem as obras pretende continuar com o negócio, ela afirma: “Claro que sim. Acredito que mesmo quando acabar tudo, as pessoas vão continuar me ligando pra comprar minhas marmitas. Até mesmo pela comodismo, muita gente não tem tempo de fazer comida em casa e compra em restaurantes. Como entrego em casa, as pessoas não têm nem trabalho de sair pra comprar”, diz. “Além disso, minha clientela já é fixa. Quem liga costuma comprar todos os dias e eles pagam por semana, o que também é um diferencial meu, já que os restaurantes não permitem essa opção”, finaliza.

Progresso muda perfil da região Lagoinha

O bairro Lagoinha, localizado na região Noroeste de Belo Horizonte, foi um dos primeiros bairros de origem operária e suas casas, contendo, em sua maioria, imigrantes italianos, foram construídas em volta de uma pequena lagoa, o que possivelmente explica o nome dado ao local.

Antigamente, a principal via de acesso ao local, apesar de estreita e muito congestionada, era a Rua Itapecerica. Hoje, por causa do progresso, não existe mais parte desta rua, assim como foi extinta a Praça Vaz de Melo, que era o ponto de encontro dos boêmios da segunda classe. Neste sentido, a Feira dos Produtores, casas e comércios tiveram que ceder lugar ao Complexo Viário da Lagoinha e ao metrô. Essas mudanças aconteceram entre o fim da década de 1960 e meados dos anos 1980.

O bairro, de décadas atrás, era fortemente marcado pelo comércio agitado, os botecos sempre abertos e com bastante gente, pensões, o ribeirão Arrudas, farmácias, mercados, feirantes, delegacias, som do trem e cinemas. A boemia se iniciava nas rodas de samba e terminava nos redutos do baixo meretrício – a chamada “Lapa Mineira”. Hoje, o bairro possui um panorama bastante diferente, uma vez que houve demolição dos casarões antigos e parte do lugar boêmio.

A segunda etapa da duplicação da Avenida Antônio Carlos causa o fim de 280 imóveis, dentre eles farmácia, Correios, supermercado, galpões e casas. O projeto, que está previsto para terminar em março do ano que vem, vai beneficiar mais de três milhões de pessoas, gerando empregos diretos e indiretos, o que movimenta o comércio e atrai investimentos.


Matéria de Carolina Fernandes, Juliana Siqueira e Lara Nassif
Fotos: Carolina Fernandes
Correção de Gabriela Tinoco e Júlio Vieira

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

História (quase) perdida entre destroços

Obras de duplicação da Avenida Antônio Carlos fazem desmoronar
elementos tradicionais do bairro Lagoinha

Seresta a noite inteira, boemia, dança. Tudo reunido em um só bairro, conhecido como o ponto de encontro dos boêmios de Belo Horizonte. Escondido pela rodoviária da cidade, cortado por viadutos e subitamente transformado pela chegada do trem metropolitano, o Lagoinha era reduto dos amantes da noite e da cerveja gelada. Era? É preciso recorrer ao passado para lembrar os tempos áureos do bairro, um dos mais tradicionais da capital mineira, que perdeu o ar histórico para tornar-se personagem principal da propaganda de desenvolvimento e duplicação da Avenida Antônio Carlos, realizada pelo governo Aécio Neves (PSDB).

Exatamente ali, há menos de um quilômetro do centro, o Lagoinha vivia à margem da capital, com seus botequins sempre abertos e cheios. Apelidado de Copo Lagoinha, devido à larga adoção do copo americano pelos bares e botequins da localidade, o bairro tinha também fama de ser a “Lapa Mineira”.

Segundo o Caderno de Histórias de Bairros, da Prefeitura de Belo Horizonte, o Lagoinha já era habitado desde a construção da cidade, tendo sido fundado por operários, a maior parte deles italianos. O nome dado à região se deve ao fato de que havia várias lagoas no local, e a maioria das casas ficava ao redor de uma delas, apelidada Lagoinha. Sua ocupação ocorreu de forma desordenada, uma vez que muitos trabalhadores e desempregados em busca de emprego no centro da cidade construíam barracos em áreas invadidas e sem nenhum planejamento.

Ainda de acordo com o Caderno da Regional Noroeste, somente em 1910 o bairro ganhou um chafariz e começou a ter abastecimento de água (chafarizes eram muito utilizados, na época, como forma de distribuição de água). E, em 1960, foi construído o Complexo da Lagoinha. Em 1971, é feita a primeira obra que mudaria a cara do bairro: a construção do túnel Lagoinha-Concórdia. Em 1984, esse mesmo túnel é duplicado e outros viadutos são construídos, ligando o Centro à Zona Norte. Começava ali o fim do Lagoinha sinônimo de boemia.

Com a chegada do sistema viário (com suas modernas plataformas de embarque e desembarque), construído bem no coração do bairro, logo atrás da rodoviária, o Lagoinha perde ainda mais a cara de tradição que carregava já a duras penas. O administrador de empresas e advogado José Duarte Sobrinho, 66 anos, morador do Lagoinha há 50 anos, lembra bem dessa época. “Desde criança era acostumado a brincar na rua durante o dia e também durante a noite, devido ao grande movimento nos bares do bairro. Com a chegada do trem e dos viadutos, chegaram também pedintes e mendigos no bairro, que virou ligação entre o centro de BH e a Zona Norte. Para nós, ali se foi a paz”, recorda.

Vista do Lagoinha em 1984
Porém, a cidade cresceu, a ordem foi ficando para trás, até que o progresso pediu passagem. O Lagoinha pagou o preço por sua localização privilegiada. Aos poucos, as tradicionais rodas de samba perderam espaço. Em 2004, iniciam-se as obras de duplicação da Avenida Antônio Carlos, uma das principais do bairro. Na primeira e segunda fase da obra, não houve interferências diretas no Lagoinha. Mas, em 2008 é anunciado o começo da terceira fase da duplicação, que atinge toda a extensão da avenida até o centro da cidade, passando pelo Complexo da Lagoinha.

Para muitos, a obra é sinônimo de melhorias e liberação do tráfego conturbado da região. Entretanto, ela deixa nos saudosistas a impressão de que a metrópole está engolindo um pedaço de sua própria memória, uma parte de si que não deveria ser esquecida. “Em minha opinião, vai ser o fim definitivo do bairro. Famílias foram desapropriadas. As que ficaram estão se mudando devido às obras e mudanças que o bairro sofreu e está sofrendo. Eu mesmo estou em dúvida se fico ou não”, afirma José Duarte.

O advogado e administrador José Duarte condena as obras no bairro

Até março do ano que vem, serão construídos sete viadutos e destruídos 280 imóveis, entre casas, comércios e galpões. Nessa etapa da obra, as ruas Itapecerica, Formiga, parte da Diamantina e outras estão interditadas. O cenário é de completa desconstituição, tudo em prol de transformar a largura da Avenida Antônio Carlos dos atuais 25 para 52 metros, melhorar a circulação de ônibus e veículos e modernizar a paisagem.

Entre as modificações está a da Rua Operários, que terá dois viadutos, os quais permitirão o retorno para o Centro e também para a Pampulha. O viaduto da Rua Arirabá terá mão dupla, enquanto que a Rua Formiga é a que vai sofrer mais mudanças: serão dois viadutos que vão possibilitar o retorno para o Centro e para a Pampulha, e interligar os bairros São Cristóvão e Bom Jesus. Por fim, a Rua Rio Novo complementa o complexo, ganhando mais um viaduto.


Vista atual da Avenida Antônio Carlos na altura do Lagoinha

Moradores sofrem com as obras na região

Apesar das melhorias prometidas para o futuro, até o momento, quem passa pelos pontos que estão em obras, se queixa da situação. A diarista e moradora do Lagoinha, Rosilene das Dores Souza, é apenas uma de muitos belo horizontinos que vão até a avenida Antônio Carlos diariamente para pegar ônibus. Segundo ela, “as calçadas estão estreitas e empoeiradas, às vezes tenho que andar no meio da rua, é muito perigoso. Os pontos de ônibus não têm abrigo e os motoristas passam direto. É um desrespeito.” Já para os condutores, as dificuldades estão no trajeto, que muitas vezes é mal sinalizado e muda de percurso constantemente. Para fugir do trânsito, boa parte desses motoristas passou a usar as ruas que ficam às margens da avenida, como rota de escape.

As desapropriações de imóveis na região geraram a perda de importantes pontos comerciais como supermercados e farmácias, além de uma agência dos Correios. Os moradores que antes tinham à disposição serviços como esses, agora precisam ir até o centro da cidade para encontrar o que precisam. De acordo com a prefeitura, a conclusão das obras de duplicação da avenida está prevista para março do ano que vem. Até lá, os moradores e frequentadores do bairro serão obrigados a conviver com a poeira, o trânsito intenso, além dos barulhos de britadeiras e máquinas em geral.

Segundo o coordenador geral das obras, Cláudio Lima, a intervenção inclui passarela para pedestres em três pontos, além de travessias ao longo da avenida e plantio de 1,5 mil árvores. “O usuário de ônibus, por exemplo, vai ganhar cerca de 20 minutos entre o Anel Rodoviário e o Complexo da Lagoinha. As obras trazem transtorno, mas valerão a pena”, afirma. Porém, nem todos os moradores do Lagoinha concordam com a destruição dos elementos tradicionais do bairro e com a modernização do cenário.

O escritor e ex-morador do bairro Tarcízio Ildefonso Costa, diz que o bairro devia ser considerado patrimônio da cidade. “O Lagoinha é um lugar diferente, reino da alegria e da vida boemia, além de morada de famílias tradicionais de Belo Horizonte”, afirma. Em 1998, Tarcízio escreveu um livro em homenagem ao bairro, intitulado “A turma, o Leão da Lagoinha e outros casos”. “Espero que no meu livro ao menos as pessoas consigam enxergar a velha Lagoinha, que, infelizmente, ficou pra trás”, diz.

Talvez não seja muito arriscado afirmar que a única coisa que permaneceu foi o nome do bairro. No mais, o Lagoinha virou um retrato na parede das famílias tradicionais e nos álbuns de Belo Horizonte. O bairro ainda é motivo de saudade dos velhos boêmios, que contam suas histórias entre uma e outra cerveja. Claro, servida em um Copo Lagoinha.

Matéria de Gabriela Tinoco e Júlio Vieira - JRM6A

Correção de Carolina Fernandes, Juliana Siqueira e Lara Nassif


Transtornos de um progresso

Etapa final das obras de duplicação da Antônio Carlos gera problemas para a população, mas promete transformar a Avenida em um corredor de progresso

Entulhos, poeira, barulho; caos. Cenário atual da Antônio Carlos

Transtornos, sujeira e muitas dificuldades para motoristas e pedestres são os principais problemas causados pela segunda etapa das obras de duplicação da Avenida Presidente Antônio Carlos, em Belo Horizonte. A via é a principal ligação da região da Pampulha com os demais pontos da cidade, além de conectar os Aeroportos da Pampulha e Tancredo Neves, em Confins – na Região Metropolitana. O que temos hoje é um corredor que possui, no trecho entre a Rua dos Operários, no bairro Cachoeirinha, e o Complexo da Lagoinha, apenas uma pista por sentido com três faixas de rolamento cada uma. Com a ampliação, a via passa a ter quatro faixas por sentido, além de uma terceira pista, com duas faixas exclusivas para o fluxo de ônibus. O objetivo é deixar a Avenida semelhante à Linha Verde, agilizando o trânsito após a conclusão das obras. O fim das obras está previsto para março de 2010.

De acordo com a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais (Setop), circulam 85 mil veículos por dia pela Avenida. Depois de concluída, a expectativa é que a obra beneficie cerca de três milhões de pessoas. Além disso, o projeto fomenta a geração de empregos, atração de investimentos na região, maior movimentação do comércio e traz segurança e melhor deslocamento para moradores e trabalhadores.

Estão sendo investidos no projeto R$ 250 milhões, dos quaisR$ 190 milhões do Estado e R$ 60 milhões da Prefeitura, para serem aplicados no alargamento da pista e na construção de sete viadutos. O investimento também é voltado para o pagamento de indenizações aos proprietários dos imóveis desapropriados.

Os Viadutos

Na etapa conclusiva do projeto, já estão sendo construídos sete novos viadutos para agilizar o acesso aos bairros da região. Os elevados vão contar com duas faixas por sentido, e devem evitar paralisações no tráfego.
Na altura da Rua Rio Novo, o viaduto que será construído vai complementar o Complexo da Lagoinha, melhorando as interligações do Viaduto Leste e da Rua Célio de Castro com a Avenida Pedro II, além das Ruas Bonfim, Itapecerica e Além Paraíba. Estas ligações ficam disponíveis também para o viaduto Oeste e para a Avenida Cristiano Machado.

Já na Rua Formiga, próximo ao conjunto IAPI, os viadutos irão promover a interligação da região do bairro São Cristóvão com os bairros Lagoinha e Bom Jesus.

A interseção da Rua Araribá em mão dupla substituirá a transposição da Avenida Antônio Carlos, que hoje é feita pela Rua Jequitaí, por meio da ligação da Rua Serra Negra e imediações, e possibilitará o reposicionamento dos veículos dos bairros Bom Jesus e São Cristóvão, com forte impacto na região do Hospital Belo Horizonte.

Entre a Rua dos Operários e a Avenida Paranaíba, o viaduto em mão dupla direcional promove a ligação da região dos bairros Cachoeirinha e Bom Jesus com São Cristóvão e Renascença.

A expectativa é que o viaduto da Rua dos Operários seja entregue em outubro e, em dezembro, mais dois viadutos. Em março de 2010, mais especificamente no dia 28, segundo avaliação do governador Aécio Neves, acontecerá a inauguração de todo o complexo.

Geração de Empregos

Com todo o investimento, a expectativa é que a etapa conclusiva gere aproximadamente 4.700 empregos diretos e indiretos. Isso segundo cálculos do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot), que prevê a criação de um emprego para cada R$ 30 mil investidos diretamente em infraestrutura. Com isso, a prefeitura de Belo Horizonte espera gerar uma arrecadação de mais de R$ 3 milhões de Imposto Sobre Serviços (ISS).

Para cada 100 postos de trabalho gerados no setor da construção, outros 285 são criados indiretamente, em média, na economia. Estima-se que, para cada R$ 1 milhão a mais investido, sejam gerados 177 novos postos de trabalho na economia, sendo 34 diretos e 143 indiretos, segundo a entidade, de acordo com dados da Câmara Brasileira do Comércio da Construção (CBIC),

Fluxo de Veículos


O que os motoristas utilizam hoje é uma via suja com congestionamentos causados pelo gargalo de veículos. O fim das obras de duplicação deve aumentar a fluidez no tráfego e reduzir os custos que viabilizam o sistema de transporte. Mas, por enquanto, as dificuldades tendem a aumentar e fazem com que as pessoas busquem rotas alternativas para se locomoverem entre os bairros. Para o motoqueiro Gilson Ferreira, o trecho está muito ruim, confuso e ainda queixa do enorme retorno que precisa fazer ao sair do Centro Universitário Uni BH para ir para o centro. “Espero que acabe logo, a região está inviável”, diz.

Confusão e trânsito caótico na altura da Rua Formiga

Para quem anda a pé

Para os pedestres, a situação ainda é pior, pois, além de uma sinalização confusa, é preciso passar sobre faixas que ficam muito próximas dos veículos, aumentando o risco de atropelamentos. Nos pontos de ônibus, o pedestre é obrigado a passar por entre carros e outros veículos, justamente por não possuir uma passagem destinada ao acesso do ponto de ônibus. “A região está um caos, muito ruim e confusa. O local também é perigoso à noite devido à falta de iluminação. Mas tenho certeza que depois de pronta, vai ficar um luxo”, afirma a secretária Jussara Luiz dos Santos, de 36 anos.

A boa notícia para quem trafega a pé pela Antonio Carlos, é que, ainda no início deste mês, a empreiteira responsável pelas obras - Consórcio Andrade Gutierrez/Barbosa Mello - iniciou a construção da nova passarela que substituirá a construída na década de 1990, com maior capacidade de pessoas. Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), a antiga passarela será demolida em 15 dias. A nova estrutura terá suporte para fluxo de 800 pessoas simultaneamente.

Copa 2014

A conclusão desse projeto, imaginado há muitos anos, é considerada de importância estratégica para a cidade, uma vez que a Avenida Presidente Antônio Carlos é um acesso direto ao Estádio do Mineirão, principal arena esportiva de Belo Horizonte, que será sede de jogos da Copa do Mundo de 2014.

Projeto de Arborização

Além de casas e prédios, árvores também estão sendo derrubadas para a acomodação das novas pistas. Para um desenvolvimento sustentável da região, o trabalho envolve um projeto paisagístico que prevê o plantio de 1,5 mil mudas de árvores ao longo das calçadas, nos canteiros centrais da busway, nas calçadas dos viadutos e nas áreas remanescentes. No caso da Antônio Carlos, a proteção ao meio ambiente se faz por meio das compensações possíveis e imediatas, incluindo, posteriormente, um projeto paisagístico para a nova avenida.

Nova Iluminação

Entre os investimentos aplicados, também está incluso no projeto a melhoria da rede de distribuição de energia elétrica, além de passagens semafóricas para dar mais segurança para os pedestres.

Dados importantes

É na Avenida Presidente Antonio Carlos que se localiza o campus da Universidade Federal de Minas Gerais, construído no governo de Juscelino Kubitschek. A Avenida Presidente Antônio Carlos começa na Região Central de Belo Horizonte, mais precisamente no bairro Lagoinha, uma região tradicional de BH. A via se estende por cerca de oito quilômetros na direção norte até a Barragem da Pampulha.

Entre o passado e o futuro


Por iniciativa de Juscelino Kubitschek, em 1944, o Conjunto Habitacional IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários), situado no bairro São Cristóvão - divisa com Lagoinha -, foi uma alternativa encontrada pelo ex-presidente da república para solucionar o problema da falta de moradia na capital mineira. Quatro anos depois – em 1948 - foi inaugurado o então chamado Residencial São Cristóvão, primeiro nome do conjunto. Famílias inteiras vindas de diferentes estados brasileiros, para contribuírem na construção da projetada Belo Horizonte formavam a primeira leva dos primeiros moradores do conjunto.

Árvores separam o Conjunto IAPI e retenção na Antônio Carlos


Tombado como bem patrimonial do município de BH, o Conjunto IAPI foi o primeiro conjunto habitacional de Minas. É reconhecido por seu valor histórico, social e arquitetônico, que, ao longo da Avenida Presidente Antônio Carlos, é moradia de cerca de cinco mil moradores, divididos em nove prédios e 928 apartamentos.

Com expectativa de valorização pela duplicação da Antônio Carlos, os moradores se mobilizam para conseguir junto à prefeitura municipal a pintura das fachadas dos prédios. “Há muito tempo esperávamos esta obra que, sem dúvida, valorizará nossa região e, por conseqüência, o IAPI. Estamos satisfeitos e esperançosos. Com a duplicação o conjunto ficará bem acomodado, o que é muito justo, haja vista sua importância cultural e histórica”, ressaltou o presidente da associação dos moradores do Conjunto IAPI, Carlos Alberto de Mendonça Pinheiro Júnior, 36 anos.

Ainda segundo o presidente da associação do conjunto, os moradores não foram comunicados pela prefeitura municipal nem pelo governo do estado, responsáveis pela duplicação da Avenida Presidente Antônio Carlos, a respeito do início das obras em julho deste ano. “Como é comum em toda obra, a duplicação trouxe muitos transtornos para a região. O único supermercado grande, por exemplo, não existe mais, contamos apenas com os mercadinhos que oferecem poucas opções de compra, além do pior e maior motivo de reclamação dos moradores: a poeira. O barulho também incomoda muito, além da dificuldade de locomoção, já que o IAPI ficou praticamente no meio da obra” concluiu Carlos Alberto.

O representante dos moradores confirma ainda que, mesmo sem um comunicado oficial e prévio dos responsáveis pela obra, os moradores estão bem informados e atentos às modificações que acontecem a cada dia devido as obras e apóiam a reforma.

Vanice Coelho, 40 anos, é moradora do bloco cinco no conjunto IAPI há mais de 20 anos. Segundo ela, a cada dia o transtorno ocasionado pelas obras em torno do habitacional dificulta cada dia mais a vida dos moradores. Porém, otimista, Vanice é a favor da duplicação e prevê muitas melhorias para a região. “Temos a grande vantagem de morarmos próximo ao centro de BH, além disso, o conjunto é praticamente uma cidade, temos opções de tudo por aqui. O conjunto tem igreja, escola, lan house, locadora, padaria, quadra de esportes, pracinha, estacionamento amplo e é envolvido por diversas árvores, tornando o ambiente muito agradável”, conta a animada moradora.

Já para Ana Paula Coimbra, 26 anos, moradora do bloco dois, as obras não vieram em boa hora. “Muitas promessas já foram feitas pela prefeitura de Belo Horizonte, desde outras administrações, poucas colocadas em prática. Infelizmente, apesar de ser um excelente local para se viver, por estar numa região central, a falta de interesse do poder público facilita, por exemplo, a entrada de traficantes da Pedreira Prado Lopes dentro do conjunto. Acredito que o IAPI, não será nunca mais um lugar tranqüilo como no passado”, expõe Coimbra.

A pernambucana Zélia Prado, de 65 anos, mudou-se para a capital mineira em 1948, com quatro anos de idade, quando seu pai – Argemiro Prado e Silva – engenheiro civil, conseguiu a oportunidade de emprego em Minas Gerais. “Tenho muitas lembranças deste lugar. Depois do falecimento de meus pais, resolvi continuar morando aqui. Casei, criei meus filhos, fiquei viúva e sozinha morando num apartamento que me traz muitas lembranças positivas. Lembro que, em meados de 1950, morar no IAPI era um verdadeiro privilégio. Moravam médicos, artistas, funcionários públicos, o que ainda acontece, mas sem aquele glamour de outras épocas” conta.

A pernambucana cita como referência o ex-jogador de futebol Tostão, um dos moradores mais famosos que o IAPI já teve. Campeão da Copa do Mundo de 1970, Tostão, que passou praticamente toda sua infância jogando bola nas quadras do conjunto, é o maior artilheiro da história do Cruzeiro, com 248 gols.

Em sua construção, o Conjunto IAPI foi sinal de modernidade para Belo Horizonte. Na atualidade, apesar de estar um tanto esquecido pelo poder público, o progresso chega a sua rua, ou melhor, avenida. Com expectativas de melhorias, não só para o habitacional, mas para todo o seu entorno, as reformas que estão sendo concretizadas darão uma nova identidade para a região, onde o passado e o futuro estarão visivelmente entrelaçados.

Um cenário de morte lenta

Cinco, dez, quinze... Preços e formas para todos os gostos. Loiras, morenas, ruivas e mulatas. Asiáticas não são fáceis de serem encontradas. Mas há quem jure tê-las visto. A maquiagem forte tenta, em vão, disfarçar as olheiras profundas. Os cabelos atrapalhados ao vento e os seios quase à mostra já não são como eram antigamente. O corpo não faz referência a estereótipos mais avantajados, mas não é nada que se despreze – deve-se dizer. Os programas entre os R$ 5 e R$ 15 não ficam muito acima das passagens de ônibus e das aguardentes de hoje em dia. O entorno da Rua Guaicurus detém a fama da região Boêmia de Belo Horizonte atualmente, o que em nada dignifica sua reputação.

Botequins da Rua Diamantina convivem com transtornos da obra

Mas, antes, apesar dos olhares repreensivos, a zona boêmia dos tipos menos favorecidos encontrava vida nas estreitas ruas da Lagoinha. No livro Lagoinha, o falecido Wander Piroli narra suas lembranças do tradicional bairro em que nasceu e viveu durante muitos anos. Nas páginas da obra, há muito da decadência que se abateu sobre a região nos últimos anos.

“Pensando bem, o próprio bairro acabou. Ou está diferente, bem diferente. Onde estão as mulheres do Buraco Quente? Não restou sequer o legendário nome. (...) É uma outra cidade, um outro bairro, pois não”. Com ou sem o aspecto de antigamente, o ar lúdico da Lagoinha permanece. Pequenos, mal arejados e conservados, ou mesmo esdrúxulos, os bares, botecos e botequins da região que colaboram a terceira maior cidade do Sudeste a se proclamar a capital mundial do segmento farrista-etílico, permanecem vivos e muito frequentados. Nesses locais, entre goles de uma cerveja, cachaça, ou mesmo de um cafezinho, as pessoas passam alguns dos seus corridos dias em uma atmosfera com algo entre o mórbido e o empoeirado.

“Uns (poucos) tomavam cerveja, outros (muitos) entornavam cachaça. O álcool fazia parte da vida desde cedo, logo depois que o jovem largava o grupo escolar. De pai para filho, com o devido respeito. Foi nos botequins que aprendi mais coisas...” Dessa forma, a vida parece passar devagar, e as mudanças tomam uma nova perspectiva. Piroli cita nas páginas de seu livro uma reportagem publicada no Estado de Minas há alguns anos em que o repórter Alberto Sena decreta: o progresso vai matando (a Lagoinha) devagar.

Um cenário de morte lenta. É nesse tradicional ambiente que o futuro da cidade está sendo materializado. Senhores discutem o progresso, estudantes sonham com as transformações do mundo, bêbados profetizam sobre a vida. Por outro lado, as prostitutas que ali restam continuam buscando seus clientes. Cada qual em seu ramo, observa-se o futuro irromper o passado, na forma menos poética e mais direta possível: obra pública.

“Com a construção do elevado e a consequente e estúpida destruição da Praça, tinha sido sacramentado o fim do bairro (...) A Praça era o cartão do bairro. Ela fervia de bêbados, prostitutas, a fina flor da malandragem, policiais de chapéu e revólver na cintura, caras insones e pálidas de jogadores de baralho, operários passando ligeiro a caminho do serviço”.

As obras atuais não se resumem a construção de um elevado. Na verdade, são a duplicação da Avenida Presidente Antônio Carlos move altas cifras e espera transformar a realidade, principalmente do trânsito, na região. Mesmo assim, para o farmacêutico João Gonçalves, 41 anos, as obras ainda são uma incógnita. “Parece que vai melhorar o acesso à região, o que é muito bom, já que o trânsito de Belo Horizonte está piorando cada vez mais. Por outro lado, é um pouco triste. Tivemos muitas desapropriações. Muito comércio e pessoas tradicionais da região tiveram que sair daqui, ou se mudar para outro ponto. Vamos ver como o bairro reage a isso”. João vai aos botecos da região sempre aos domingos. Segundo ele, o clima nos bares não é mais o mesmo. “Perdemos um pouco do encantamento”, conta.

O mecânico Nilson Aparecido, de 30 anos, não esconde sua frustração. Sentado em uma cadeira de plástico e tomando uma cerveja que ganhou gratuitamente após tomar outras três, ele diz o movimento dos boêmios que restava na Rua Diamantina diminuiu drasticamente. “Antes, a gente podia chegar e encontrar alguém para bater um papo, jogar uma sinuca. Agora, parece que as pessoas evitam esse lugar. Ninguém gosta de ficar perto de obra”, lamenta.

“Chove intensamente, mas a noite é de festa, e o bar está com todas as mesas ocupadas. Ali não se permite a entrada de mendigos, bilheteiros e outras pessoas que possam denegrir a imagem do local”. Trecho do livro Lagoinha.

O comerciante Cláudio Mendonça, de 67 anos, conhecido por seus clientes como Seu Cláudio, trabalha com seu bar/lanchonete há 12 anos. Segundo ele, este é o pior momento que ele já passou na região. Mesmo assim, ele não pensa em largar o velho ponto. “Vou continuar aqui. É o jeito. Mas acho que tudo isso está acabando. É muito difícil”.

“...a Lagoinha era um bairro imperialista. Do outro lado, pegava também a Rua Diamantina, embora algumas pessoas que ali moravam não gostassem de ser da Lagoinha. Mas eram. E, no fundo, tinham um certo orgulho”.

Pedro Carvalho formou-se em história há alguns anos no Uni-BH. Agora, com 28 anos, passa pela Avenida Presidente Antônio Carlos todos os dias para ir ao trabalho. Ele teme pelo futuro do Centro Universitário responsável pela sua graduação. “O Uni-BH parece que vai ficar no meio do nada, com vários viadutos e acessos passando ao lado dele. Parece que o lugar, a Lagoinha de forma geral, está perdendo o pouco que resta de sua alma”, diz. No entanto, Pedro acha que as obras são importantes para o crescimento da cidade. “A vida é assim mesmo. As coisas não morrem, ficam para a história”.



Reportagem: Fernando Junqueira, Gabriel Ribeiro, Marco Aurélio Cunha e Tiago Alves

Fotos: Tiago Alves

Do Oiapoque ao Chuí em 2 quilômetros


As obras para duplicação da Av. Antônio Carlos no Complexo da Lagoinha abriga operários de todo o Brasil e refletem a diversa cultura do país.

Eles estão sempre vestidos com camisas de mangas longas feitas de tecidos grossos. Suas calças compridas e vermelhas são toscas. As botinas de biqueira emborrachada nunca estão limpas assim como os capacetes que já quase fazem parte de seus corpos. Aos olhos dos transeuntes, parecem todos iguais andando de uma ponta a outra com suas ferramentas em mãos, debaixo do sol incessante. Mas em um primeiro contato já se percebe como suas particularidades se afirmam. É o alto astral e a causa em comum que os unem.

Em sua maioria são homens que vêm de longe para contribuir no desenvolvimento de uma cidade pela qual não possuem nenhuma intimidade. Eles têm vários nomes: servidores, colaboradores, trabalhadores braçais, operários; na realidade, são mais bem definidos como peões. Eles formam um batalhão de quase 4 mil empregados empenhados na duplicação da grande Avenida Antônio Carlos.

Crédito: Davi Rocha.

Horário de almoço: uma das poucas brechas para

descanso na jornada de oito horas de trabalho.

Andando pela caótica obra de chão irregular, entre vigas e torres de concreto que se armam em meio à poeira de terra seca, parece que se volta aos tempos da Torre de Babel; nas conversas que se ouve, o “uai” mineiro se confunde com o “oxente” baiano. Enquanto o carpinteiro sergipano come macaxeira, o feitor carioca come mandioca e o encarregado paraense come aipim. Mas essa Torre de Babel mineirinha não divide seus construtores. Na hora da labuta a linguagem é a mesma. São culturas diferentes que não se excluem e que envolvem a mesma meta.

Diferentemente dos candangos brasilienses, estes homens são itinerantes, pulam de estado em estado onde seus serviços são requisitados. Mas tão logo são concluídas as obras, eles migram mais uma vez, sem sequer usufruírem do que constroem. Ganham pouco por aqui, apesar de Belo Horizonte ter mão de obra escassa. No entanto, o salário ainda é superior ao recebido nos estados de origem. Em sua maioria vem do nordeste mas são muitos também do Rio de Janeiro e de São Paulo .

“Pra ficar bom tem que ter baderna”

São 7 horas da manhã e o carpinteiro Darlan Silva, 41, está reunido com seus colegas para ouvir o DDS, o momento em que o feitor da obra lê a rotina de trabalho para o dia e as regras de segurança. Aproveitando a companhia de sua equipe, Darlan coloca a conversa em dia, pois logo vai para seu posto recluso de trabalho de onde não deve se afastar até 6 horas da noite, horário que deixa o serviço. No seu posto, Darlan não tem mais do que uma serra elétrica circular, pilhas de madeira e uma garrafinha de refresco como companhia.

Pela manhã, as tarefas são mais tranqüilas porque não existe o fator agravante do sol forte e do trânsito intenso do final da tarde. Mas quando se aproxima as 11 da manhã, a combinação de roupas pesadas e sol escaldante se torna quase insuportável. Mas Darlan não reclama porque sabe que poderia ser pior; ele conta com a sombra de sua tenda. Sua maior demanda de trabalho é a construção de painéis que servem de fôrma para o concreto e é nisso que se concentra a maior parte de seu tempo. Sempre que tem uma brecha, o carpinteiro gosta de se descontrair com seu pessoal.

Crédito: Alexandre Ribeiro.

Klédson Oliveira: “Pra ficar bom, tem que ter baderna”

“No começo foi difícil porque o que eu mais gosto no meu trabalho é de entrosar com os colegas, mas como cheguei três meses depois do início das obras peguei tudo no meio do caminho”, explica Darlan. Ele se diverte ainda mais pela composição peculiar do campo de obras. “O meu ajudante é alagoano e meu encarregado é baiano, eu acho que 80% do pessoal aqui não é mineiro, isso é bom porque acabo aprendendo coisa de todo lugar”, conclui.

Aqueles que estão apenas de passagem pela Antônio Carlos tendem a ser imediatistas, considerando apenas o transtorno direto que a obra causa, sem vislumbrar os resultados. E, frequentemente, os operários são os bodes expiatórios nas reclamações. “Geralmente os mais estressados passam aqui xingando, falando o que não devem com a gente, parece que não entendem que estamos fazendo algo pra melhorar a vida deles”, desabafa o vigia da obra da Lagoinha, João Martins Pereira, 35 anos. João nasceu em Padre do Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, e veio trabalhar em Belo Horizonte no início das obras. Ele se queixa do salário, que em sua opinião é muito baixo se comparado aos oferecidos em outros estados, como no Rio de Janeiro, aonde também chegou a trabalhar em obras públicas.

Embora os salários sejam inferiores aos que se pagam normalmente no eixo Rio-São Paulo, os orçamentos de obras como as que estão em processo na duplicação da Av. Antônio Carlos geram mais empregos diretos e indiretos. A Câmara Brasileira do Comércio da Construção (CBIC) estima que para cada R$ 1 milhão a mais na demanda final da construção sejam gerados 177 novos postos de trabalho na economia, sendo 34 diretos e 143 indiretos.

Mas não são todos da comunidade no entorno das obras que são intolerantes com os impactos provocados pelo processo de construção. Alguns, como o sorveteiro Klédson Oliveira, 48, entendem que toda construção requer desconstrução, ou nas palavras dele: “Tá ruim agora, mas pra ficar bom tem que ter baderna”, conscientiza.

Além disso, o início das operações no Complexo da Lagoinha teve que contar com aceitação dos moradores, que abdicaram de lares que também eram parte da cultura histórica da cidade. Segundo a Secretaria de Estado dos Transportes e Obras Públicas, para a duplicação da Avenida Antonio Carlos estão sendo desapropriados e indenizados mais de 250 imóveis a um custo de aproximadamente R$ 110 milhões, ao longo dos 2 quilômetros em manutenção.

Embora as desapropriações desconfigurem a imagem de um bairro tão tradicional como o Lagoinha, as previsões para valorização dos imóveis nas adjacências da Antônio Carlos são promissoras. De acordo com a imobiliária Net Imóveis, apartamentos residenciais como os do conjunto IAPI já chegam a quase 100% de valorização após o início das obras.

O que mais parece desestimular os operários que vêm de outras cidades não é nem a truculência de quem não dá o verdadeiro valor a suas atividades nem os salários insuficientes, mas sim a distância das famílias e amigos. “A rotina de trabalho aqui é dura, visito minha família quase que só uma vez por mês e sinto muitas saudades. E olha que eu sou de Minas, tem gente aqui do nordeste que não pode ver a família por mais de seis meses”, lamenta João Martins.

Roubos

Aparentemente uma tarefa sem muitos desafios, ser vigia em um campo de obras pode trazer surpresas não muito agradáveis. É o que conta o ajudante João Martins. “O mais difícil é tomar conta de todas as ferramentas e equipamentos daqui. Já peguei gente tentando roubar peças e partes do maquinário”, disse. Algumas vezes a tentativa de roubo pode até ser negociada. “A maioria dos ladrões são marginais que já ficavam nos arredores do IAPI antes das obras. Quando eles tentam pegar alguma coisa dos canteiros a gente explica que eles estarão nos prejudicando, porque nós não somos os donos”, completa.

De acordo com o sargento Dutra da 21ª Companhia da Polícia Militar, responsável pelo comando da delegacia de polícia do bairro Lagoinha, a criminalidade não aumentou com o início da duplicação, mas se observou novos focos de roubo na região. “Os marginais da região perderam locais de abrigo com o início da duplicação, mas em contrapartida as demolições serviram como novos esconderijos e pontos estratégicos para eles observarem objetos de interesse nos canteiros de obra”, esclareceu o sargento.

A presença constante dos vigias nas obras não consegue intimidar a ação dos meliantes, que quase sempre agem em grupo. “Infelizmente, nem a polícia consegue impor respeito com uma postura ostensiva, quanto mais os vigias, que estão desarmados e não têm muita instrução”, ressalta o sargento Dutra.

Lama

Sempre que chove para. Esta é a realidade da rotina nos canteiros do Complexo da Lagoinha. Com veículos pesados e riscos de desmoronamento, as operações na Antônio Carlos são completamente paralisadas, porque a terra planagem deixa o solo vulnerável. “Neste estágio em que a obra se encontra o solo precisa ser preparado para a pavimentação e a terra planagem é muito necessária. Quando chove isso tudo vira um lamaçal, o que impede a continuidade do trabalho”, explica o carpinteiro Darlan.

É em dias chuvosos que os trabalhadores têm mais tempo de se interagir, pois a única alternativa é esperar pelo final da chuva dentro das cabines de alumínio que abrigam até 600 operários. “Muita gente nem chega a vir bater cartão em dias de chuva, mas os que vêm passam o tempo como podem. Jogamos baralho, contamos casos, ouvimos rádio. É uma boa oportunidade para nos conhecermos melhor e encontrar o pessoal que trabalha em pontos mais distantes”, conta Darlan.

Crédito: Davi Rocha.

Rios de lama: quando chove, as paralisações nas obras

podem se estender por até três dias.

Além dos impactos diretos, a chuva também implica três dias a mais de prejuízo, o tempo necessário para o solo atingir o ponto ideal para manuseio. Mas os piores efeitos das intempéries são sentidos por quem circula na avenida durante as chuvas. As enxurradas levam a terra solta para a boca dos bueiros e os entupimentos geram verdadeiros rios de lama. Em alguns casos, os pedestres chegam a ficar literalmente ilhados e o relevo inclinado da região potencializa as enxurradas.

PANCADÃO

Parou. A inexorável serpente metálica também já não se move. Tudo o que se mexe são pontos alaranjados idênticos. O que se ouve é uma mistura cacofônica de buzinas e gritos dispersos. Anda logo! Vocês tão aqui pra trabalhar ou o quê? O caos. Sinal verde. A víbora de carros se desorienta e não sai do lugar. Gigantes da escavação limitam sua passagem. O caos. A tempestade se enseja e os que sentem o cheiro da poeira grossa no uniforme azul e vermelho já veem seus pés atolados na terra planagem. Pega a britadeira, Waldisney, lá vem descendo água! José vira, vira que vai atolá! Ó paí, ó, o céu tá preto, oxente! Cobre as máquinas, uai! Enxurrada. Desce com furor; lixo, luxo e lama num só fluxo. Tipo assim, minha meia tá um horror! Rômulo, pode fechar a loja que a água só tá subindo, vai alagar. Pancadão. Mercedes e Volks se chocam. A culpa não é minha, você não viu o desvio?! Se não fosse essa obra... O caos. O colosso de aço se torna ainda maior. Vocês são pagos pra ficarem parados aí? Isso aqui fica pronto algum dia? Abrigo. Nas cabines de alumínio, pingos metálicos se intercalam aos gritos de truco. Seis, nove, doze, toma ladrão! Com esse aguaceiro só daqui três dias, Bola! Crepúsculo. Finda a luz, o vigia compartilha sua solidão com o vagar dos carros.

Parou.

Por: Alexandre Ribeiro, David Rocha, Joana Nascimento e José Luiz Campos.

Correção: Fernando Junqueira, Gabriel Ribeiro e Thiago Alves.

Trabalhando na Antônio Carlos

Rotina de trabalho, mercado e sindicato daqueles que estão fazendo a ampliação de uma das avenidas mais movimentadas de BH


A maioria dos trabalhadores da construção civil segue uma rotina de trabalho, diretrizes dadas pelas empresas para que todas as pessoas envolvidas em determinada área de atividade possuam comportamento padronizado. Com os funcionários contratados pelas empresas Andrade Gutierrez e Barbosa de Melo, responsáveis pela obra da duplicação da Avenida Antônio Carlos, não é diferente.

Divididos em equipes de acordo com suas funções, a primeira coisa a fazerem depois de estarem uniformizados e utilizando todos os equipamentos de trabalho obrigatórios é reunir as equipes para uma palestra que definirá as tarefas do dia.

Os funcionários da obra cumprem metas semanais. Estas são passadas pelo engenheiro responsável através de reunião com a administração, e eles repassam para os encarregados da obra que, em palestra com os operários, apresentam o serviço da semana. Para a equipe de drenagem, a meta a ser cumprida por dia é construir dez metros de galeria, para atender à meta semanal de 60 metros por semana. Já a equipe de armadores, não tendo meta específica por dia, trabalha com a da semana.

Assim como em todas as rotinas, existem adversidades atrapalhando ou modificando toda sua estrutura. Normalmente, o imprevisto mais comum é causado por ações da natureza. A chuva é um fator negativo para o bom andamento da obra, pois muda a rotina de trabalho dos funcionários. De acordo com o encarregado de produção e drenagem, Adão Pereira, o desenvolvimento do trabalho tem quedas consideráveis em dias de chuva. “Nossa meta por dia é atingir dez metros de galeria. Com a chuva, o máximo que atingimos são três”.

Quando a chuva é muito forte, a única coisa que os funcionários fazem é ajudar na limpeza de lamas que escorrem para as pistas e improvisar escoramentos por causa de desmoronamentos. Com equipamentos e obra-prima molhados, os operários não têm condições de trabalhar, sendo liberados. No caso dos trabalhadores que ganham por hora trabalhada, eles também perdem o dia.

Pereira também relatou que os usuários de drogas são um incomodo, e estão espalhados pelos escombros da Antônio Carlos. “Vejo várias pessoas entrando pela manhã e saindo à noite. A maioria dessas pessoas fica próxima à Rua Formiga, esperando um albergue abrir, para tomar banho, comer e dormir. No outro dia, elas saem e voltam para as ruas, onde se drogam o tempo todo,” conta Pereira. Ainda segundo o operário, a Polícia Militar (PM) chega a prender alguns viciados, principalmente aqueles que cometem furtos pela região, mas no dia seguinte, eles voltam a abordar moradores, comerciantes e funcionários da obra, sem nenhuma restrição.

Outro fator que também interfere negativamente na obra é o grande número de veículos que trafegam pela avenida, pois para fazer escavações é necessário desviar o trânsito, o que causa engarrafamentos e atrasa a chegada de materiais e tratores, atrapalhando também a circulação pelas obras. Tudo isso, além de ter que redobrar a atenção com os funcionários e máquinas.

Os funcionários são contratados temporariamente pelas empresas Andrade Gutierrez e Barbosa Melo. Assim, quando a obra na Avenida Antônio Carlos acabar, automaticamente eles não farão mais parte dessas empresas. Mas, segundo Adão Pereira, se o funcionário mostrar uma boa produção e um bom rendimento, ele é transferido para outra obra, como é o caso do armador Getúlio Correia, 57 anos, que há 35 trabalha pela empresa Andrade Gutierrez. “Sempre que acaba uma obra, a empresa me manda para outra. Vou participar da construção da cidade administrativa e de uma obra próxima à UFMG”, diz Getúlio.

Apesar de existirem vários fatores negativos que mudam o cotidiano de quem trabalha na obra, o resultado será gratificante, pois beneficiará toda a população. Segundo a BH-Trans, 85 mil veículos circulam diariamente pela Antônio Carlos. O alargamento vai beneficiar todos os usuários, diminuindo o tempo das viagens. O armador José Ferreira, que também trabalha na obra, mora na região de Venda Nova e sempre passa pela avenida. “Fico feliz por meu trabalho contribuir. Fazendo parte de tudo isso, estamos melhorando a cidade, construindo passarelas e semáforos, garantindo a segurança de pedestres e veículos. Os benefícios também valerão para mim, que moro em Venda Nova e sempre passo por aqui”.


O encarregado Pereira ressalta que a duplicação da avenida vai aumentar a fluidez no tráfego, reduzir os custos operacionais do sistema de transporte, dar mais segurança aos pedestres e à população vizinha, melhorar o acesso do trabalhador e diminuir a poluição com a requalificação de áreas urbanas. O trabalhador conta sobre o projeto paisagístico elaborado, que prevê o plantio de 1,5 mil mudas de árvores ao longo da Avenida Antônio Carlos, no trecho entre a Rua Operários, no bairro Cachoeirinha, até o Complexo da Lagoinha. O encarregado diz que essas árvores substituirão as 140 que estão sendo retiradas, devido às obras de ampliação da via. “Para cada árvore retirada, serão plantadas dez outras”, acrescenta.

Os operários possuem uma hora de almoço: o horário varia entre 11h e 13h, de acordo com o grupo de trabalho. Cada grupo possui horários de almoço específicos. Existe um refeitório dentro da obra, local em que os funcionários podem esquentar suas marmitas, sentar-se e descansar.

Muitos trabalhadores alegam fazer hora-extra, o horário de trabalho é de 7h às 17h, de segunda a sexta-feira; e de 8h às 16h, aos sábados. Durante a semana, a maioria trabalha até as sete da noite. Por receberem por hora, consideram ponto positivo ficarem até mais tarde. Getúlio ressalta que, no princípio das obras, havia dois turnos. Contudo, percebendo que o serviço não rendia à noite e considerando ser perigoso, e também por causa da criminalidade, o segundo horário foi extinto.

Quando perguntado quanto à presença do sindicato nas obras, das dez pessoas questionadas, todas responderam que não havia ninguém. Todos alegaram também não estarem filiados a nenhum sindicato ou entidade relacionada.



Emprego e sindicato

A construção pesada é responsável pela geração de 78 mil empregos em Minas Gerais, segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de Minas Gerais (Sicepot).

De acordo com informações publicadas no site Agência Minas – Notícias do governo do Estado de Minas Gerais, atualmente, o alargamento da Avenida Antônio Carlos gera cerca de 2.100 empregos, sendo 700 diretos e outros 1.400 empregos indiretos. A nova etapa do alargamento é realizada por meio de parceria entre o governo de Minas e a Prefeitura de Belo Horizonte, com investimentos de R$ 250 milhões, sendo R$ 190 milhões do governo do Estado e R$ 60 milhões da prefeitura.

Para o presidente do Siticop, José Antônio da Cruz, com 15 subsedes no interior, as obras do governo de Minas na RMBH têm contribuído para o fortalecimento e aquecimento do setor. O Siticop representa cerca de 150 mil trabalhadores em todo o Estado. “Desde 2003 é possível notar o crescimento gradativo do setor da construção pesada em Minas”, ressaltou Cruz.

Um dos fatores destacados pelo presidente do Sicepot, Marcus Salum, para o fortalecimento do setor da construção pesada é o planejamento que o governo de Minas realiza para investimento em obras. De acordo com ele, sinalizações como a que o governo de Minas deu recentemente de que manterá todas as obras previstas pelo Programa de Pavimentação de Ligações e Acessos Rodoviários aos Municípios (Proacesso) são imprescindíveis para garantir a demanda por mão-de-obra e a tranquilidade no setor.

“O planejamento de investimentos por parte do governo Estadual, algo que sonhávamos, contribui para que o nosso setor se programe para atender as demandas. Isso é importante em todos os momentos, mas principalmente em situações de crise como a atual”, enfatizou Salum.

Na opinião do presidente do Sicepot, obras públicas como as realizadas na RMBH são essenciais para a colocação de mão-de-obra no mercado, contribuindo assim para a redução de problemas sociais como criminalidade e desemprego.

As obras na Antônio Carlos têm previsão de término no mês de março do ano que vem. Logo após, o governo de Minas enviará parte dos operários para o término da construção da Cidade Administrativa.

.

Matéria produzida por: Jussara Coelho e Talita Karine

Corrigido por: Nicole Barcelos


BH em busca de um progresso

Fim das obras na Antônio Carlos é anunciada para março de 2010

O governo de Minas anunciou, em outubro de 2009, que no final de março de 2010 estará concluindo a última etapa de alargamento da Avenida Antônio Carlos, principal via de acesso à região da Pampulha e Venda Nova, zona norte de Belo Horizonte.

Visando atender a população da melhor forma possível, estão sendo investidos R$ 250 milhões, contando que, destes, R$ 190 milhões provêm dos cofres do Estado.

Ao final do processo, a Avenida Antônio Carlos contará com doze faixas de tráfego, sendo as pistas centrais destinadas, única e exclusivamente, ao transporte coletivo. Os aeroportos Tancredo Neves, em Confins, e o da Pampulha muito se beneficiarão, visto que a ampliação desta via de acesso melhorará o fluxo dos veículos, principalmente nos horários de pico.

Quem se beneficiará com as obras

Segundo entrevista concedida ao portal Uai, o governador Aécio Neves promete que esta obra irá beneficiar mais de três milhões de pessoas, gerando empregos, atraindo investimentos, movimentando o comércio e agilizando, com segurança, o deslocamento dos trabalhadores.

Este grandioso empreendimento mudará o aspecto desta região, marcada pela dificuldade de escoamento do trânsito de veículos de todas as espécies, devido não só às estreitas pistas, mas também ao crescimento demográfico de Belo Horizonte.

No trecho a ser alargado, haverá também a construção de viadutos e trincheiras nas principais interseções da avenida, facilitando as ligações entre os bairros do entorno.

Sete novos viadutos, contendo no mínimo duas faixas, deverão ser construídos para facilitar o fluxo de veículos aos bairros adjacentes à Avenida Antônio Carlos, o que contribuirá para que não haja congestionamentos.

O alargamento da Avenida Antônio Carlos diminuirá o tempo de deslocamento do trabalhador para o centro de Belo Horizonte e o seu retorno no final do dia.

Passarelas serão construídas, facilitando o cruzamento da avenida e garantindo segurança e conforto para todos. Trincheiras e viadutos possibilitarão, aos motoristas, um fluxo mais ágil e com menor risco de acidentes.

Tudo isto associado a uma requalificação urbanística, promoverá uma melhoria muito grande da qualidade de vida de quem precisa trafegar, diariamente, por esta região.

Investimentos X Geração de Empregos

O Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de Minas Gerais (SICEPOT) calculou que o investimento de R$ 250 milhões, realizados pelo governo, na segunda etapa da obra, gerará, aproximadamente, 4.700 empregos diretos e indiretos. A previsão é a criação de um emprego para cada R$ 30 mil investido diretamente em infra-estrutura.

Para cada 100 postos de trabalho gerados diretamente no setor, serão criados, segundo a Câmara Brasileira do Comércio (CBIC), outros 285 indiretos. A indústria da construção impulsiona a maioria dos segmentos produtivos, seja através da geração de emprego e renda ou dos insumos desta indústria.

Segundo dados do Banco Mundial, também houve crescimento do denominado setor do Construbusiness na geração de emprego e renda. Dados da entidade apontam que para cada 1% de crescimento na infraestrutura corresponde, em média, a 1% do PIB.

Responsabilidade Socioambiental

Um novo cenário paisagístico também poderá ser presenciado pela população que, todos os dias, circula pela Avenida Antônio Carlos. Conforme previsto no projeto paisagístico, 10 árvores deverão ser plantadas em substituição a cada uma que foi retirada na 1ª etapa, computando, ao todo, o plantio de 1,5 mil novas mudas.

O projeto de alargamento tem uma política compensatória, no que diz respeito ao meio ambiente, o que comprova que o desenvolvimento proposto é sustentável, ou seja, baseia-se na reposição imediata de qualquer dano à natureza. Árvores serão plantadas, não somente ao longo das calçadas, mas também nos canteiros centrais da busway, nas calçadas dos viadutos e nas áreas remanescentes da obra.
O trecho a ser beneficiado com as novas árvores fica entre a Rua dos Operários, no bairro Cachoeirinha e o complexo da Lagoinha.

Melhorias e mudanças no trânsito

A melhoria no trânsito para as regiões Norte de Belo Horizonte, Pampulha e Venda Nova também será resultado deste grande projeto. No entanto, a obra provoca, hoje, inevitavelmente, a interdição de várias ruas, como a Rua Rio Novo, entre a Rua Diamantina e a Avenida Antônio Carlos; a Rua Amadeu Quaglia e a Dr. Antônio Mourão.

O acesso à área central que, na região, era feito através da Rua Rio Novo, passou a ser realizado através das ruas Pitangui e Sabará e o acesso à avenida só poderá acontecer pela Rua Juazeiro. A sinalização ficou a cargo da BHTRANS, que, com faixas de tecido e sinalização de obra, tem indicado os desvios e orientado os motoristas, de modo a garantir a segurança, não só dos condutores, mas também dos pedestres e passageiros de ônibus.

Devido às obras, muitos pontos de ônibus precisaram ser trocados de lugar. Segundo a Assessora de Marketing da BH Trans, Helena Bueno, agentes da Unidade Integrada de Trânsito irão monitorar o tráfego na região até o final das obras. “Todas as informações sobre o Transporte Coletivo podem ser obtidas na Central de Atendimento Telefônico da BHTRANS, pelo número 3277-6500 ou no portal da empresa”. Em frente ao Hospital Belo Horizonte, no sentido centro / bairro, por exemplo, já não existe mais parada de ônibus, pois esta foi remanejada para o quarteirão seguinte, bem em frente à Mila Veículos.

O tráfego também sofreu desvios importantes, tais como o das ruas Amadeu Quaglia e Dr. Antônio Mourão Guimarães, que foram desviados para a pista exclusiva de ônibus.

Desapropriações, indenizações e mágoas

Como já previsto no projeto, muitos moradores tiveram que desocupar suas residências para que a pista pudesse ser alargada. O governador Aécio Neves confirmou, em entrevista ao Portal Uai, que o processo de desapropriação dos imóveis, construídos às margens da rodovia, já está praticamente concluído, o que possibilita a afirmação de que a obra, de fato, será concluída no prazo previsto. O valor investido na desapropriação de mais de duzentos e quarenta imóveis, ao longo de todo o trecho em obras na Antônio Carlos, foi de, aproximadamente, R$ 110 milhões.

Muitas famílias, portanto, já foram removidas da avenida e indenizadas com dinheiro do Estado. Muitas delas viram-se forçadas a transferirem-se para outros locais, deixando, para trás, suas lembranças e até alguns bens.

Segundo o ex-morador da avenida, Sr. Antônio Menezes, de 78 anos, as amizades que construiu ali, durante 40 anos, tiveram que ser diluídas. “Muitos amigos foram para bairros distantes e eu cheguei até a pensar em voltar para o interior”. Ele sabe, no entanto, que o desenvolvimento é necessário e diz que a avenida ficará muito bonita.

Nova onda de urbanização

Entre o fim do ano de 1960 e meados da década de 1980, Belo Horizonte dava os primeiros passos para se transformar em uma grande metrópole. Nesta época, a região da Lagoinha, bairro localizado próximo à Antônio Carlos, era rodeada pela Praça Vaz de Mello além de algumas casas e comércios. Era só caminhar pelas ruas e logo se encontrava de tudo: sapateiro, alfaiate, mercearia e padarias. Todos se conheciam pelo nome, dando ao lugar um ar de “pequena cidade”. Hoje, os moradores dão adeus ao que restou destas casas e comércios que aos poucos deram lugar a viadutos e complexos.

Moradora da região desde 1985, Lúcia de Melo, de 53 anos diz que sente um grande vazio ao olhar pela janela de sua casa. “A tranqüilidade que se via nesta região foi trocada pelo barulho constante de carros e ônibus. Mitos amigos já se foram. O bairro já não é o mesmo de antigamente”.

A amargura de alguns moradores mostra que a Lagoinha não é mais a mesma. Mas, como o processo é contínuo, muitos esperam que as mudanças também tragam benefícios. Com as obras, o bairro terá uma valorização imediata, o que atrairá a vinda de uma nova população.

Até março de 2010, a população, que trafega pela região, irá se deparar com algumas mudanças, sejam elas de pontos de ônibus, de ruas desviadas e até de fortes congestionamentos. A avenida possui, atualmente, apenas uma pista por sentido, com três faixas cada uma, totalizando 30 metros de largura. Com as intervenções, esta via terá, em cada sentido, uma pista com quatro faixas de tráfego. A conclusão vai criar um corredor moderno de ligação entre os aeroportos e o centro de Belo Horizonte, valorizando ainda mais a capital mineira.

Alguns moradores e empresários precisaram ser desapropriados

Um estacionamento, uma empresa de xerox e algumas casas residenciais já foram retiradas da Rua Rio Novo

A BH Trans já sinalizou todo o local onde está havendo desvios

Obra será finalizada em março de 2010
por Nicole Barcelos
correção: Thalita Karine e Jussara Coelho