sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Comércio sobrevive em meio aos escombros

Melhorar o fluxo de veículos, alargar as ruas e trazer maior comodidade a pedestres e motoristas. Estes são alguns motivos apresentados pela prefeitura de Belo Horizonte para as mudanças que seguem no complexo da Lagoinha. No entanto, quem quiser tirar um xerox ou comprar material de construção para sua casa, terá de andar mais um pouquinho e se acostumar ao novo cenário que se apresenta dia após dia. Os comerciantes e comerciários mais do que atentos à nova estrutura, buscam não somente otimizar seus lucros, mas acrescentar à sua nova rotina, alguns dos vestígios presentes antes das obras. Os clientes antigos, por exemplo.




Obras deslocam comércio

“O movimento acabou”, diz o dono de uma papelaria localizada na Avenida Antônio Carlos, Altair Bandeira. “O aluno quer comodidade e não quer atravessar a rua”, acrescenta. O desabafo é explicado através da nova realidade vivida pelo comerciante. Desde julho deste ano ele se viu obrigado a sair do lado do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) para se instalar um pouco mais longe, do outro lado da avenida. Aos poucos, ele foi percebendo que nada era como antes. A distância da faculdade fez com que a procura por seus serviços ficasse menor. Além disso, ele relata os fatores financeiros como outro motivo de preocupação: a nova localização originou aluguel mais caro e quitação adiantada do primeiro ano de instalação.

A urgência de transposição dos pontos comerciais acabou por aumentar o valor do aluguel dos imóveis. Um proprietário de duas salas na região, que não quis se identificar, afirma que atualmente ele chega a cobrar até 20% a mais de seus novos inquilinos. De acordo com ele, isso faz parte de estratégias comerciais, e é necessário aproveitá-las: “Em épocas de mudanças e crise, alguns choram e outros vendem os lenços”, afirma. A procura por suas salas foi tão grande que em um só dia ele chegou a receber cinco propostas diferentes: “Estamos vivendo em um mundo no qual devemos saber aproveitar aquilo que conseguimos adquirir com anos de esforço. Analisei cada telefonema que recebi e, obviamente, escolhi aquele em que eu sabia que teria mais lucro e segurança”.

O prazo dado pela prefeitura de Belo Horizonte para a desocupação dos lugares é de 90 dias. A corrida por outro equivalente, entretanto, vem a partir da falta de informação recebida em tempo hábil por aqueles que pagam aluguel. Altair Bandeira lembra que não se preocupou com as obras assim que elas começaram a se aproximar de seu espaço. Ele explica que o dono do imóvel em que ele estava afirmava que tudo permaneceria inalterado e que seu posto continuaria o mesmo. Não foi o que aconteceu. Um mês antes ele se viu envolvido em uma série de papéis e em decisões que iriam afetar o seu negócio. “Agora que já tive que pagar o primeiro ano, vou ficar nesta nova loja. Mas depois disso, se as coisas continuarem assim, terei que sair deste ponto e procurar outro”.

Nesta hora, o que conta muito é a fidelização do cliente. Em estabelecimentos nos quais o consumidor não é simplesmente um transeunte tomado por um chamariz momentâneo, a tendência é que o número de vendas não diminua. É o que afirma um vendedor de uma loja de materiais de construção, Rodrigo Vieira. Segundo ele, o movimento continua o mesmo, uma vez que os clientes que compram este tipo de produto buscam atendimento e confiabilidade, sendo indiferente a mudança de uma rua para outra. A loja, que estava há 45 anos na Avenida Antônio Carlos, mudou para a Rua Itapecerica. O lugar menor, todavia, exigirá que logo que acabem as obras, parte dos produtos sejam transportados para o seu lugar de origem.

A publicitária Ana Dias aposta na ousadia de poder mudar todo o modo produtivo quando se percebe que ele não supre as expectativas. Para tanto, ela acha indispensável que os comerciantes saibam se adaptar ao novo tipo de cliente. No caso de Altair Bandeira, que começa a presenciar a entrada de um novo perfil de consumidor, que não compreende mais só os alunos da faculdade, Ana Dias recomenda: “Eu sempre digo que o melhor a se fazer é saber olhar o que você vende e para quem vende. Quem muda tem que enfrentar um novo público, e quando o público é externo, o desafio é maior, mas não impossível. Colocar cartazes grandes e fazer promoções pode ser uma alternativa. Ninguém tem preguiça de atravessar a rua se falarmos em economia de dinheiro em detrimento de um gasto minimamente maior de tempo”, conclui.

Os consumidores se dizem atentos às mudanças e afirmam que não é somente o tempo ou a distância que os atrapalha a buscar lugares que estavam acostumados a freqüentar para efetuar suas compras. De acordo com a estudante Larissa Gomes, o problema engloba outra série de fatores: “Há muito tempo eu digo que a faculdade precisa de uma passarela em frente. Atravessar ali é muito perigoso e com as obras parece que ficou pior. Os ônibus param e tampam nossa passagem”. Ela explica que às vezes prefere recorrer à outros estabelecimentos para que não seja necessário passar entre as obras. “Outro dia fui passar dentro de um lugar cheio de barro, e, como estava de salto, mal conseguia andar. Não tenho paciência de andar ali”.

Quem passa pelas ruas, às vezes, observa somente uma porção de buracos e terra. Torna-se difícil perceber a presença de algumas lojas ou estabelecimentos alimentícios entre os terrenos vazios e mau cheirosos. A diarista Clotilde Santos, ao fazer sua primeira faxina em uma casa no local, diz ter tido dificuldade em encontrar um lugar para fazer um lanche ao sair do serviço. “Eu saí com fome, observei em volta e só tinha terra vermelha, que deixa o pé da gente vermelhinho. Fiquei parada tentando encontrar um lugar e achei que não tinha. Um moço no ponto de ônibus que me mostrou, mas eu fiquei com nojo de comer no meio da poeira”, diz.

O desafio de se fazer visível, captar novos clientes e conservar os antigos sustenta um novo ritmo de trabalho que requer não somente mais horas de participação ativa no comércio, pensando e desenvolvendo ações, mas também uma nova estrutura. Um negócio deve ser pensado em termos econômicos e sociais, de acordo com a publicitária Ana Dias. E, para isso, ela acha fundamental averiguar o que as novidades geram empiricamente: “Não é só gente. Tem que analisar o espaço físico, as sensações que ele provoca, as cores das paredes que mudaram. Tem que se pensar em tudo que muda, absolutamente”. E dá uma dica: “Nunca observe as mudanças como algo negativo. As ideias surgem de pontos conflituosos”, conclui.

Informalidade x obras: os dois lados da história

O comércio formal não foi o único afetado pelas obras no complexo da Lagoinha, mas também o informal, que abrange a compra, venda e troca de qualquer produto não institucionalizado. Ou seja, que não segue as regras e leis que regem o comércio formal. São os conhecidos camelôs ou os catadores de papel, papelão, alumínio etc. As obras no local afetaram tanto positiva quanto negativamente esse comércio.

Alguns trabalhadores informais perderam espaço de trabalho pelo aumento do número de ambulantes ou tiveram que procurar outra fonte de renda para o seu sustento. Esse é o caso do catador de alumínio Antônio Gonçalves, 29 anos. “O comércio anda muito fraco porque com as obras aumentou muito o número de catadores”, afirma Antonio. “Antes eram poucos, eu e mais uns quatro, cinco, porém agora toda hora que você passa está cheio deles por todo lugar, principalmente pela manhã, que é a melhor hora para achar materiais. Aí acaba que a gente que trabalha lá há muito tempo, tem que arrumar outra forma de ganhar dinheiro, pedir nos ônibus, por exemplo, como tenho feito” conta.


Carrinho de Antônio Gonçalves: hoje vazio

Segundo Antônio, o aumento de catadores se deve ao fato de que, como cresceram os locais abertos, tais como fossas, buracos etc, as pessoas também jogam mais lixo nesses locais, principalmente latinhas de cerveja e refrigerante. Assim, quem trabalha com esses produtos migra para os lugares onde eles se encontram em maiores quantidades, como ocorre agora na Lagoinha.

“Isso prejudica muito a gente. É injusto, porque eu sempre fui catador aqui, e, agora eles chegam e ocupam nosso lugar e isso faz com que a gente consiga catar pouco alumínio e venda pouco também”, diz o catador. “As fábricas que compram o alumínio também estão aproveitando a situação, porque como tem muito catador agora, eles pagam pouco pelo quilo. Quando a concorrência aumenta, o preço do quilo diminui, porque se você não quer vender, tem outro que vai vender”. Ele acrescenta: “O que antes dava pra bancar minha família pela semana toda, não está dando mais nem pra um dia direito. Às vezes passamos fome e temos que pedir ajuda para os nossos vizinhos”, finaliza.

Porém, não é só para o mal que as obras interferem na vida dos comerciantes. Elas também possibilitaram o surgimento de novos campos de trabalho. A aposentada Maria de Lourdes, 62 anos, é um exemplo disso. Ela viu nas obras uma nova possibilidade de trabalho e aumento de sua renda, e agora vende marmitas que faz em casa, e entrega nas redondezas da Lagoinha.


Neto de Maria de Lourdes em mais um dia de trabalho

“Assim que as obras começaram e que iniciou o quebra-quebra das ruas, vi uma grande chance de trabalho para mim. Como sempre cozinhei e gosto disso, pensei que as pessoas não iam querer ficar subindo e descendo o tempo todo para comprar comida, então resolvi fazer marmitas e pedir para meu neto entregar nas casas”, explica.

De acordo com Maria, a estratégia foi extremamente lucrativa. As pessoas querem comodidade, por isso preferem ligar e pedir as marmitas para serem entregues do que ir aos restaurantes almoçar ou jantar. “O que ganho com minhas marmitas é mais do que o meu salário de aposentada. Chego a tirar mais de 100 reais por semana só com essas vendas”, diz.

Quando perguntada se depois que terminarem as obras pretende continuar com o negócio, ela afirma: “Claro que sim. Acredito que mesmo quando acabar tudo, as pessoas vão continuar me ligando pra comprar minhas marmitas. Até mesmo pela comodismo, muita gente não tem tempo de fazer comida em casa e compra em restaurantes. Como entrego em casa, as pessoas não têm nem trabalho de sair pra comprar”, diz. “Além disso, minha clientela já é fixa. Quem liga costuma comprar todos os dias e eles pagam por semana, o que também é um diferencial meu, já que os restaurantes não permitem essa opção”, finaliza.

Progresso muda perfil da região Lagoinha

O bairro Lagoinha, localizado na região Noroeste de Belo Horizonte, foi um dos primeiros bairros de origem operária e suas casas, contendo, em sua maioria, imigrantes italianos, foram construídas em volta de uma pequena lagoa, o que possivelmente explica o nome dado ao local.

Antigamente, a principal via de acesso ao local, apesar de estreita e muito congestionada, era a Rua Itapecerica. Hoje, por causa do progresso, não existe mais parte desta rua, assim como foi extinta a Praça Vaz de Melo, que era o ponto de encontro dos boêmios da segunda classe. Neste sentido, a Feira dos Produtores, casas e comércios tiveram que ceder lugar ao Complexo Viário da Lagoinha e ao metrô. Essas mudanças aconteceram entre o fim da década de 1960 e meados dos anos 1980.

O bairro, de décadas atrás, era fortemente marcado pelo comércio agitado, os botecos sempre abertos e com bastante gente, pensões, o ribeirão Arrudas, farmácias, mercados, feirantes, delegacias, som do trem e cinemas. A boemia se iniciava nas rodas de samba e terminava nos redutos do baixo meretrício – a chamada “Lapa Mineira”. Hoje, o bairro possui um panorama bastante diferente, uma vez que houve demolição dos casarões antigos e parte do lugar boêmio.

A segunda etapa da duplicação da Avenida Antônio Carlos causa o fim de 280 imóveis, dentre eles farmácia, Correios, supermercado, galpões e casas. O projeto, que está previsto para terminar em março do ano que vem, vai beneficiar mais de três milhões de pessoas, gerando empregos diretos e indiretos, o que movimenta o comércio e atrai investimentos.


Matéria de Carolina Fernandes, Juliana Siqueira e Lara Nassif
Fotos: Carolina Fernandes
Correção de Gabriela Tinoco e Júlio Vieira

4 comentários:

  1. Erro de computador. A correção havia sido feita até o "mau cheirosos", com total de -3 pontos pelas seguintes inadequações: pontuação, crase e semântica.

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  2. Continuação da Correção.

    -Mais uma vez a redundância entre dois pontos e verbo dicendi no final da frase. Vejam só: "E dá uma dica: 'Nunca observe as mudanças como algo negativo. As ideias surgem de pontos conflituosos', conclui";
    -Mais uma vez, separando sujeito do verbo com vírgula: "Aí acaba que a gente que trabalha lá há muito tempo (,) tem que";
    -Colocar vírgula antes do verbo dicendi: "como tenho feito' (,) conta";
    -"Neto de Maria de Lourdes em mais um dia de trabalho": legenda inadequada para a foto, pois não identifica nada;
    -Preposição inadequada: "As pessoas querem comodidade, por isso preferem ligar e pedir as marmitas para serem entregues (do que) ir aos restaurantes almoçar ou jantar". Trocar o "do que" por "a" (-1);
    -"Possivelmente explica"? Ou explica? Definam melhor;
    -Ao falar em "Lapa Mineira", é preciso dizer que se trata de uma alusão ao bairro carioca;
    -Pessoal, a matéria de vocês poderia ser mais bem escrita. Existem muitos e repetidos erros, levando-se em consideração de que se trata de um texto escrito por três futuros jornalistas e corrigido por outros dois. Mais! Vocês podem fazer mais e melhor. Além dos 4 pontos por erros de Norma Culta, tirei mais 1, por deficiência de cobertura.

    Nota de Produção de texto: 15/20.

    Nota total: 19/25.

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