segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Duplicação da Antônio Carlos incomoda estudantes

Os estudantes do UNI BH (Centro Universitário de Belo Horizonte), estão enfrentando inúmeros problemas com as obras feitas na Av. Antônio Carlos

Vanessa Calvo

Alunos do UNI BH sofrem com o barro causado pelas obras

Muito barulho, problemas, desapropriações, trânsito intenso, caos. Esse é o cenário vivido pelos estudantes do UNI BH, comerciantes e moradores desde 2008. Na Av. Antônio Carlos, uma das principais vias de acesso ao centro da cidade, estão sendo realizadas obras para a melhoria do trânsito na capital, que já passaram por duas etapas. No segundo semestre de 2009, começou a terceira etapa. Ruas foram fechadas, desvios foram feitos para que fosse realizada o alargamento da avenida. O prefeito Marcio Lacerda afirmou que a obra é fundamental para estrutura viária de Belo Horizonte e simboliza a consolidação da cooperação estreita entre a prefeitura da capital e o Governo do Estado. Mas essa melhoria trouxe transtornos aos moradores da capital, o trânsito se tornou lento, principalmente para aqueles que trafegam pela Antônio Carlos. Na época das chuvas o problema vem se agravando cada vez mais. Os mais prejudicados são os alunos e funcionários do UNI BH (Centro universitário de Belo Horizonte), que enfrentam trânsito lento e difícil acesso as principais ruas em torno da avenida.
Com a chegada das chuvas os carros enfrentam uma maior dificuldade com o acesso a Antônio Carlos, principalmente no complexo da lagoinha. Os alunos e funcionários do Centro Universitário sentem o drama. “Desde que começou a reforma eu tive que vir de carro, o túnel da lagoinha fica impossibilitado de você andar. Agora eu passo por cima, fazendo um grande desvio. Se eu passar pela Antônio Carlos fico pelo o menos 30 minutos parada”, ressalta a estudante do UNI BH Maíra Moreira. Não só o grande fluxo de carros é a única dificuldade enfrentada, o barro causado pela construção e o piso escorregadio, é uma das grandes preocupações para os estudantes. “Eu sinto um desconforto enorme desde o começo das obras. Estamos sem calçada, com apenas barro puro. Quando eu desço do ônibus acabo pisando na lama e ficando toda suja”, diz a universitária Meyre Ribeiro. Com o tempo chuvoso a situação ainda é pior. De acordo com o professor e coordenador do laboratório de jornalismo impresso Fabrício Marques, muitos alunos estão deixando de ir a aulas pela dificuldade que enfrentam com o trânsito e com a lama causada pelos temporais na porta da instituição de ensino superior. A professora do curso de designer gráfico Paula Almeida tem reclamações semelhantes. “Até para a gente que vem de carro é difícil, não tem onde estacionar, com a chuva a dificuldade de se chagar no local de trabalho é maior e sem contar no barro que a gente tem que pisar. É um transtorno enorme”.
Com o mau tempo, a terra vermelha por causa da construção, juntamente com a água, se transformam em uma lama que dificulta a passagem, fazendo com que os alunos cheguem com os pés sujos e com mais probabilidade de escorregarem, devido ao piso molhado. Para tentar amenizar, os trabalhadores da obra colocaram britas, mas mesmo assim ainda há riscos. Em dias de sol muito quente, a poeira é um fator que incomoda muito.

Atená Maria


Chuvas causam transtornos nas calçadas

No turno da noite quando os temporais são de maior intensidade os transtornos pioram, ruas alagadas, carros não conseguem trafegar e os alunos não conseguem chegar ao Centro Universitário. Outro grande incomodo é a mudança dos pontos ônibus. No sentindo centro – bairro não há um ponto de ônibus seguro para os estudantes, o que aumenta os riscos de atropelamentos. Como não existe passeio, os motoristas muitas vezes deixam as pessoas quase no meio da avenida e essa situação é ainda pior nos horários de pico, em que a avenida tem uma grande movimentação. Os ônibus intermunicipais têm uma situação mais agravante, ficam muito distantes e, pela falta de calçada, os pontos se encontram no meio da pista.
À noite, para aqueles que utilizam o transporte intermunicipal é ainda mais grave, eles sofrem com os perigos de assalto, o desconforto com as britas, o barro e a pouca iluminação. “Outro dia eu quase fui atropelada, estava indo para o ponto de ônibus à noite e um motoqueiro confundiu a área reservada para pedestres com a pista para carros. Levei um susto!”, completa a estudante do Centro Universitário de Belo Horizonte Júlia Gracielle.

Viviane Ferreira

Pontos de ônibus muito distantes é um problema para estudantes

No sentindo bairro-centro as complicações são semelhantes. O tempo de acesso ao complexo da lagoinha aumentou. Os alunos para não perderem as aulas estão tendo que acordar mais cedo. Para aqueles que trabalham e estudam a noite, a compreensão dos professores é importante nos atrasos e até nas faltas às aulas. “Eu estou acordando mais cedo para conseguir chegar na hora. Antes eu acordava às 6h30, agora acordo às 6h para pegar o ônibus mais cedo, mesmo assim ainda chegou um pouco tarde”, explica Mariana Cardoso estudante da instituição. Até os motoristas do transporte público estão sensibilizados com a falta de mobilidade dos alunos. “Tento deixar os alunos o mais perto possível, da forma mais segura. Vejo todos os dias o desespero de muitos por causa do trânsito. A situação está caótica para todos”, fala o motorista da linha 5401 que não quis se identificar.
As vans universitárias passam pelo o mesmo transtorno. As ruas de acesso as portarias do UNI BH, estão praticamente interditadas, dificultando o retorno e o estacionamento dos carros. “A solução é aguardar os alunos na Antônio Carlos mesmo, já que não tem como entrar nas ruas e nem estacionar. Deixando-os expostos a todos os tipos de perigos, inclusive para nós, que podemos ser multados por isso”, reclama Eduardo Silva que faz transporte universitário. Os alunos usuários de vans também se queixam. “Antes a van espera os alunos na portaria próxima a Antônio Carlos, como o retorno é muito grande, agora ele tem que pegar a gente na Rua Diamantina para tentar diminuir a volta que ele faz., afirma Meyre.
A pouca iluminação também é uma preocupação para os alunos e funcionários. Os grandes números de assaltos na região antes das obras eram frequentes, agora com quase não existência de luz, no turno da noite o risco é maior ainda. “Eu estava indo para o ponto de ônibus após terminar um trabalho, e já estava à noite, como a rua é mal iluminada e passam poucas pessoas, eu quase fui assalta. Com as obras tenho medo de se tornar constante”, denúncia à aluna Luisa Helena Novaes.
Os inúmeros problemas não param por ai, o constante barulho causado pelas máquinas, tem prejudicado a concentração dos alunos. “Eu estava fazendo prova, tentando me concentrar nas respostas e não conseguia. O barulho era intenso, dificulta muito a nossa concentração”, declara Mariana.
Essa tem sido a rotina dos alunos e funcionários do UNI BH. Perigo, lama, incômodos, transtornos e muita paciência para conseguir estudar e trabalhar. No ultimo dia 7 de outubro, após uma intensa chuva, os estudantes da instituição passaram por um susto. Salas de aula e corredores inundados, portarias intransitáveis, ninguém saia e ninguém entrava. Minutos ilhados em meio à água suja por causa do barro causado pela reforma. Os alunos esperam que a obra acabe no prazo determinado. Até março de 2010, os estudantes ainda vão continuar enfrentando todas essas dificuldades.

Trânsito

Segundo Ronan Aguiar, assessor de imprensa da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS), circulam por dia, 85 mil veículos na Avenida Antônio Carlos. Com o período confuso os desvios vão sendo feitos à medida que a obra avança. “Não podemos precisar quantos agentes serão necessários nesse período. Em dias de maior movimento como sextas-feiras, dias de jogos ou vésperas de feriado, redobramos a atenção e deslocamos vários agentes para orientar o trânsito”, explica.
Ainda de acordo com Ronan, a última intervenção realizada foi no dia 17 de setembro. “Fechamos algumas ruas no entorno da avenida. Tudo é feito com sinalização e muitos panfletos são distribuídos à população. No momento as intervenções são maiores por volta do conjunto IAPI”. Em frente ao Centro Universitário de Belo Horizonte o cruzamento da Avenida Antônio Carlos com rua Diamantina foi fechado, facilitando assim, a travessia de alunos e funcionários. Para a estudante de Recursos Humanos, Sarah Carolina Pereira Fernandes, ficou mais fácil chegar ao ponto. “Antes não tinhamos tempo para atravessar. Ficávamos no meio dos carros e ônibus. Era muito perigoso. Com o fechamento da rua podemos atravessar a perigosa avenida com mais tranqüilidade”, ressalta.
Passam pela Antônio Carlos, 43 linhas de ônibus e mais de 100 mil pessoas utilizam o transporte coletivo. A obra de alargamento que prevê mais seis pistas e sete viadutos tem um custo de 250 milhões de reais.

Medidas para combater o stress

Trânsito lento, engarrafamentos e o barulho excessivo, fazem parte do cenário da capital mineira e eleva o stress dos Belo Horizontinos “às alturas”. Para alegria de muitos, é possível evitar ou pelo menos diminuir o problema. Driblar a ansiedade quando os carros estão parados não é tão difícil assim.
A estudante Ana Carolina Oliveira, tenta sair de casa com pelo menos meia hora de antecedência, ela deixa o conforto da cama para não se atrasar para às aulas. “Saindo mais cedo eu garanto o meu dia, não fico aflita pensando que não vai dar tempo de chegar. Manter a tranquilidade para mim é fundamental”, conta Ana Carolina.
De acordo com o médico psiquiatra Ênio Rodrigues, a estudante acerta quando levanta mais cedo, segundo ele pela manhã nosso organismo sofre alterações de humor e a irritabilidade no trânsito pode deixá-lo ainda mais comprometido. “É bom que as pessoas atendam para isso, sair de casa correndo sem fazer uma alimentação adequada e pegar engarrafamentos pode deixar o motorista extremamente estressado. Isso prejudica tanto sua vida social quanto sentimental, além de em alguns casos acarretar em outros problemas, como por exemplo: enxaquecas, depressão, insônia, entre outros”, explica o psiquiatra.
Outros usam a tecnologia como forma de fuga do problema. “Dentro do ônibus eu procuro ouvir músicas para não ficar pensando na lentidão do trânsito. Se eu dispersar e vê o que de fato está acontecendo fico muito nervosa. Então fecho os olhos e me volto só para a melodia”, comenta a estudante Júlia Gracielle.
Segundo Rodrigues, o ser humano não consegue se concentrar em duas coisas ao mesmo tempo, ele pode às vezes oscilar a atenção entre uma coisa ou outra, mas nas duas. “Ouvir música dentro do carro ou no transporte coletivo pode sim minimizar o stress. As pessoas que estão ouvindo músicas podem conseguir enfrentar com mais conforto o caos do que aquelas que se concentram somente no trânsito”, ressalta.
O Doutor Rodrigues deixa algumas dicas para aliviar a tensão na hora do trânsito intenso e aproveitar o tempo:

- Saia com antecedência de casa;
- Se puder, saia antes ou depois dos horários de pico;
-Procure caminhos alternativos, evitando grandes avenidas, de trânsito intenso;
- Procure ouvir música calma e relaxante, em volume condizente e confortável;
- Pense em coisas boas enquanto estiver no trânsito. Pensamentos ruins podem deixá-lo ainda mais cansado, além de aumentar a frustração;
- Deixe a janela um pouco aberta, para ventilar dentro do automóvel;- Evite brigas;
- Faça exercício respiratórios, inspirando e expirando lentamente;
- Aproveite o trânsito parado para planejar seu fim de semana ou férias;
- Evite manter o pé fixo na embreagem e faça exercícios com os pés.

Por: Atená Maria, Vanessa Calvo e Viviane Ferreira

Corrido por: Isabella Barroso, Mariana Deslandes, Vitor Teixeira





Av. Antônio Carlos de olho no futuro

Com a conclusão das obras a expectativa é de que a Av. esteja adaptada para copa de 2014

Cândida Fernandes
Trecho do Bairro Lagoinha, próximo ao UNI-BH

O governo estadual, em parceria com o governo federal, está investindo R$250 milhões na duplicação da Avenida Antônio Carlos, uma das vias mais movimentadas da capital mineira. Desde o ano passado, pedestres e motoristas convivem diariamente com transtornos em vários trechos onde estão sendo construídos novos viadutos e 12 faixas de tráfego. No entanto, outros números também são chamativos, quase 5 mil empregos diretos e indiretos foram gerados nesse período, segundo a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
A previsão é que depois do término, mais de 85 mil veículos passem pela Avenida durante o dia.
Atualmente o grande fluxo de carros causa grandes congestionamentos e quem trabalha ou estuda no centro de BH precisa ter muita paciência, pois as rotas e pontos dos transportes coletivos mudam diariamente. De dentro dos ônibus e automóveis é comum olhos estarem atentos a toda essa mudança. Efigênia Augusta de Lima, 38, moradora do Bairro Itapoã, passa diariamente pela Antônio Carlos e afirma que muitas vezes não se recorda mais dos prédios e comércio da região. “Fico curiosa com a obra, todos os dias tem algo diferente, parece um grande quebra-cabeças e determinados lugares não reconheço mais.”
Mas, a curiosidade da população não se limita apenas na construção que dia-a-dia toma corpo, desenhando a céu aberto o projeto dos engenheiros. Os braços que movem caminhões, máquinas de concreto, escovadeiras e moldam os andaimes chamam atenção tanto quanto os rostos desconhecidos.
Os trabalhadores da produção civil são oriundos de várias partes de Minas Gerais e do Brasil. Deixam pra trás suas origens, casa, família para buscar oportunidades. 21 de outubro, quarta-feira de manhã chuvosa na grande BH. Sem condições de trabalhar Francisco José Diniz, 56, e Marcelo da Costa, 28, voltam para os albergues, que eles chamam de alojamento. Francisco vindo do Ceará, conta que mora nas terras mineiras há mais de 30 anos e mesmo com a idade chegando não deixa de prestar seus serviços. “Isso pra mim é uma alegria, não há dinheiro que pague. Quando a obra estiver concluída trarei os meus netos aqui pra passear e direi: o vovô ajudou a fazer.”, diz ele. A família de Francisco mora em Montes Claros – MG e ele afirma que já se acostumou com a saudade. “É minha profissão, é o que leva o sustento pra eles, tenho que enfrentar a situação.”, fala emocionado. Desde os 21 anos o operador de máquinas trabalha na construção civil e ressalta a importância dos investimentos no país. “Sou um homem simples, mas sei que quando o governo investe a gente tem onde trabalhar. Passei anos desempregado, eu vi muitas crises, por isso falo pra essa juventude aí da obra para aproveitarem a oportunidade.”
Cândida Fernandes

Obras no Bairro Lagoinha

E pelo jeito Marcelo está seguindo os conselhos do amigo mais velho. Vindo da cidade vizinha de Nova Lima, o ajudante, acredita que se alguém sonha em construir um futuro melhor tem que começar desde cedo. “Não tive oportunidades para estudar e hoje trabalho dignamente como tantos outros, deixando uma obra imortal. Quero continuar na profissão, construir minha casa, comprar meu carro e passar férias na praia todos os anos.”, diz com um sorriso tímido.

De início a obra nada mais era que um transtorno, moradores ainda reclamam sobre a desordem, o trânsito piora devido aos desvios. A duplicação da Avenida Antônio Carlos tem como meta possibilitar uma melhoria na qualidade de vida dos moradores da região, um processo de longa data que necessita da colaboração de todos. Quem sai do interior de Minas Gerais ou do outro lado do Brasil para ganhar seu dinheiro suado será capaz de sustentar a família, o estudante que acorda cedo chegará mais rápido ao colégio ou universidade. A moradora Vânia dos Reis, 37, moradora do bairro Aparecida se sente prejudicada pela obra, pois vive um caos diário tentando chegar ao local de trabalho, mas afirma que é um mal necessário. “Não vejo a hora do término da obra, a via será segura para pedestres e motoristas, e vou poder acordar um pouco mais tarde, já que o trânsito não vai ser mais sufocante como é agora”. Assim como essa moradora preocupada e consciente, existem muitos outros que se misturam no dia a dia desse grande projeto. A estudante do 7º período de jornalismo Adelle Soares, 21, acorda às cinco e meia da manhã, arruma-se as pressas e vai a luta a caminho da faculdade onde estuda. “É estressante ver tantos carros parados e eu super atrasada para fazer uma prova”. A rotina dela é diferente da dos operários que trabalham na obra, mas a satisfação é um desejo dos ambos. Nova Lima, Pará de Minas, Pedro Leopoldo, como se deslocar para Belo Horizonte? Muitos deles não dormem em casa, alguns enfrentam uma longa viagem de casa para poderem trabalhar, um albergue qualquer se torna o novo lar desse operário. Quem passa pela Avenida Antônio Carlos diariamente é capaz de perceber a movimentação constante na obra. Trabalhadores vão e vêm, carregam peso, se enfiam em buracos, manuseiam ferramentas perigosas. Como lidar com essa pressão todos os dias? “É reconfortante saber que eu vou receber pra isso.

Arrumar serviço não é fácil, e quando tudo isso aqui estiver pronto, e eu com meu dinheiro no bolso é só alegria” afirma empolgado o operário Waldir dos Santos, 42. Mas não é apenas de correria e esforço físico que essas pessoas vivem. É comum as pessoas passarem de ônibus ou a pé pelos desvios estreitos da obra e se depararem com um grupo de trabalhadores rezando. Um novo dia se inicia, e é talvez através da oração que cada um busca sua força. Assim fica mais fácil perceber que cada indivíduo faz parte dessa construção, é uma teia de decisões para achar a melhor forma de facilitar a vida dos moradores e transeuntes. A Avenida Antônio Carlos sendo a principal via de do trânsito regional da Pampulha é prioridade na busca de melhorias. Ela interliga pontos importantes da cidade de Belo Horizonte, como a Universidade Federal de Minas Gerais e o Mineirão, principal arena esportiva que vai sediar jogos da Copa do Mundo de 2014. Com previsão para término em 2010 projetos não param de surgir, e cabe a população pensar no futuro. A Cemig já fez investimentos na rede de distribuição que contorna o Complexo da Lagoinha, também é previsto que 1,5 mil mudas de árvores sejam plantadas na rua Operários no bairro Cachoeirinha até o Complexo. Se o homem que sai de casa de madrugada e ora com os colegas por mais um dia de trabalho é otimista quanto ao resultado, todos nós também precisamos ser.


Melhorias no trânsito da Av. Antônio Carlos

Cândida Fernandes

Obras em frente ao Uni-BH

Percorrendo a Av. Antônio Carlos sentido Pampulha/Centro percebe-se uma significativa melhoria e, ao mesmo tempo, transtornos no trânsito. Devido ao saturamento dos últimos anos, a Avenida, passa por um processo de duplicação desde o ano de 2005. A primeira etapa que foi no trecho, que se inicia no Viaduto São Francisco e termina no cruzamento das avenidas Bernardo Vasconcellos e Américo Vespúcio. Nesse local foi construída uma trincheira que liga as duas avenidas. Já a segunda etapa finalizada em 2008, estendeu a duplicação desse ponto até a Rua Aporé, no bairro Aparecida. A terceira e última fase que está em período de construção terá a Avenida duplicada até o complexo da Lagoinha, onde serão construídos seis viadutos para ligar bairros no entorno da via. A previsão de término da última etapa da obra é para 2010.

De acordo com dados do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em Belo Horizonte tem mais de 700 mil carros, pesquisa realizada em 2008. Entre ônibus e micro-ônibus são mais de 10 mil veículos para atender uma população com mais de dois milhões de habitantes. Embora essas construções sejam para o desenvolvimento do trânsito e melhoria do tráfego, as obras causam transtornos para passageiros de ônibus, motoristas, pedestres e moradores da região. Para Ângela Santos, moradora do Bairro Lagoinha, a duplicação da Antônio Carlos, trará muitos benefícios, mas enquanto a obra está acontecendo reclama constantemente dos barulhos das furadeiras, escavadeiras e da poeira que entra em casa.

“Com essa duplicação a tendência é melhorar o trânsito. Apesar de sair mais cedo de casa por causa de congestionamentos, pois tem dias que eles mudam onde devemos passar, a minha expectativa é que a Av. Antônio Carlos fique 100%”, afirma Paola Serafim, moradora do Bairro Jaraguá. Para moradores, a perspectiva é de que o trânsito tenha mudanças expressivas. Já para outros moradores as obras é uma solução, mas precisam de diversos fatores para ficar adequado aos usuários de ônibus. Para Danilo Resende, morador do conjunto IAPI, “não adianta fazer esse tamanho de obra, gastar milhões, se realmente não houver mudanças. Tem que colocar mais transporte coletivo, para que as pessoas deixem o carro em casa e vá de ônibus. Há uma serie de aspectos a serem mudados junto com a obra”, ressalta.

As expectativas em relação às obras são muitas. Moradores esperam que seja bom tanto para o trânsito, como para eles, pois terão acessos com mais facilidade a outros bairros, além de segurança no trânsito. “A obra será excelente para o trânsito, mas não se pode esquecer a segurança. Com a duplicação, com certeza o asfalto ficará melhor, sem buracos, mais larga para ônibus, carros e motos passarem, sem um ter que disputar espaço com outro. Além disso, a conexão que um bairro terá com o outro foi uma ótima idéia”, assegura a moradora do Bairro Lagoinha, Dalva Soares.

Cândida Fernandes; Densise Carvalho e Jacklane Alves

domingo, 1 de novembro de 2009

Sonhos e desenvolvimento

Duplicação da Antônio Carlos muda rotina da população, mas obras são promessa de melhorias de vida para operários da construção civil

Crédito: Gabriela Sthefânia

Trecho da Lagoinha que passa por obras desde janeiro deste ano

O que se pode ver em meio à terra, tratores, barreiras e poeira, são operários trabalhando a todo vapor. Eles se esforçam para darem conta do serviço dentro do prazo estabelecido, que é março de 2010. Prova disso é o pedreiro Laudemiro Soares, que já trabalha há dois anos para a construtora Andrade e Gutierrez, a responsável pela obra. Laudemiro estava trabalhando na obra do córrego do Onça quando foi transferido para a duplicação da Avenida Presidente Antônio Carlos devido à grande demanda do empreendimento.

“Quando as obras começaram aqui na avenida, eu estava lá no Onça e, apesar de ter mais trabalho, gostei de ser transferido. Além disso, estou satisfeito com as novidades e com o aumento do número de obras que estão aparecendo. Isso muito bom porque é mais dinheiro no meu bolso e quanto mais a gente trabalha mais a gente aprende, além de conhecer novos colegas”, afirma.

O Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot) informa que 4.700 empregos diretos e indiretos estão sendo gerados. O cálculo é de que a cada R$ 30 mil investidos diretamente em infraestrutura um emprego foi gerado. O Consórcio Andrade Gutierrez / Barbosa Mello é a empreiteira responsável pelas obras, no trecho de 2,2 quilômetros de extensão.

O carpinteiro Dedico de Santos Lopes trabalha para a construtora Andrade e Gutierrez desde 1987. De acordo com ele, a duplicação das obras da Avenida Antônio Carlos gerou muitos empregos. “O que percebi é que tem muita cara nova aqui. Como é uma obra grande, tiveram que contratar muita gente. E isso é bom! Além de gerar renda para essas pessoas, traz gente nova para o ramo, força de trabalho renovada”, ressalta o operário.

Vanderley Custódio Guilherme saiu de sua cidade natal, São Domingo do Prata, e veio para Belo Horizonte no início deste ano à procura de emprego. “Fiquei sabendo que eles estavam fichando para a obra e deixei meu telefone na avenida mesmo, numa cabine que eles montaram”. A oportunidade logo surgiu. Após um mês, Vanderley recebeu um telefonema, participou de uma entrevista e, há dois meses e meio, conquistou seu emprego de carteira assinada com a função de sinaleiro.

Outro trabalhador da obra é Daniel Dantas Rodrigues. Daniel sempre trabalhou como auxiliar administrativo, mas estava desempregado. Até que surgiu a vaga de sinaleiro. “Meu amigo me falou que a Andrade Gutierrez estava precisando de funcionários para a obra e que estava recebendo currículos. Levei o meu lá no escritório deles e, com pouco tempo, fui contratado”, pontua.


Crédito: Priscila Robini

Pedestres e motoristas disputam espaços e se ariscam meio as obras da avenida
Desconforto inevitável

Congestionamentos, buzinas, sinais fechados, pedestres se arriscando nas ruas, pisando em britas e cruzamentos complicados. Esse é o cenário que motoristas encontram ao passar pelo trecho em obras da Avenida Presidente Antônio Carlos. O motorista de transporte universitário, Lívio Guedes, passa pelo local todas as tardes. Ele leva sete estudantes do turno da noite para o Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) e estaciona sua van próxima da entrada da faculdade pela Rua Francisco Soucasseaux, paralela à avenida.

“Acho que o maior problema aqui é a sinalização. Para a gente que passa por aqui e conhece a região não é tão difícil, a gente sabe. Mas quem não conhece passa apertado”, conta.

O motorista teve que adiantar o horário em que passa nas casas de todas as alunas e mudar seu trajeto. Tudo em função do trânsito pesado que enfrenta para chegar ao destino. Buscar trajetos alternativos é a solução encontrada por muitos condutores assíduos do local, como Lívio.

Com extensão total de 7,5 km, a Avenida Presidente Antônio Carlos funciona como uma das principais vias de trânsito. Interliga as regiões Centro-Sul à Pampulha e Norte de Belo Horizonte. As obras são fruto de uma parceria entre o Governo do Estado de Minas Gerais com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Iniciada em janeiro deste ano, a duplicação da avenida está em sua segunda fase, sendo que a primeira etapa do alargamento e reestruturação foi concluída em dezembro de 2008.

De acordo com a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), as obras de duplicação incluem a construção de sete viadutos, com no mínimo duas faixas por sentido, o alargamento das pistas de 25 metros para 52 metros. O processo de desapropriações já foi realizado, proporcionando expansão à avenida. Ainda segundo a Setop, estão sendo investidos, aproximadamente, R$ 250 milhões nos trabalhos da obra. Desse total, R$ 190 milhões são do Governo do Estado e R$ 60 milhões da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Um total de R$139 milhões foi investido em infraestrutura, e outros R$ 111 milhões na desapropriação de 240 imóveis.

Segundo levantamento feito pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) circulam pela avenida 85 mil veículos por dia. Com todo esse fluxo, as obras certamente irão priorizar toda a população. Além do alargamento das vias, serão implantados viadutos – o que vai promover melhoria para os motoristas que passam pelo local, aliviando o trânsito.

O aeroviário e estudante de Processos Gerenciais no Uni-BH, Leonardo de Souza Braga, de 26 anos, já foi de carro para a faculdade algumas vezes durante o período de obras. Ele usa a mesma entrada que Lívio, na Rua Francisco Soucasseaux. Não gostou muito do tráfego pesado e reclama bastante da dificuldade de acesso e da segurança. “A rua é estreita, mal sinalizada e tem riscos demais. Pedestres e carros na rua, quase não tem passeio”, conta o estudante.

Mas o que chamou a atenção do jovem é que a rua, que antes era mão única, agora permite a passagem de veículos nos dois sentidos. “Ficou horrível! A rua é estreita e não comporta mão dupla. Eles resolveram um problema com uma medida paleativa e criaram outro”.

Além disso, a rua oferece poucas vagas e quem quer estacionar com segurança tem que chegar cedo. Leonardo ainda questiona a presença da polícia. “Acho que a PM deveria estar mais presente”.
Arquivo
Prospecto mostrando 2 dos novos 7 viadutos que
estão sendo implantados na Antônio Carlos

Futuro

Em 2014, a Copa do Mundo será no Brasil e terá jogos em Belo Horizonte. As avenidas que dão acesso ao estádio Governador Magalhães Pinto – conhecido popularmente por Mineirão, e que certamente sediará alguns dos jogos – são: Cristiano Machado, Abraão Caram, Presidente Carlos Luz e a própria Presidente Antônio Carlos.

A previsão, segundo divulgado pela Prefeitura, é de que as obras da Antônio Carlos sejam concluídas em março de 2010. Até lá, a população que vive nos arredores terão que conviver com o barulho, a poeira e os transtornos de trânsito advindos da duplicação. No entanto, de acordo com a PBH, valerão a pena: ao final desta etapa, juntamente com a primeira já realizada, os cidadãos vão sentir as diferenças do projeto e das obras de excelência.

Mesmo sofrendo com os transtornos do trânsito caótico na região, a grande expectativa é de que, com a conclusão dos trabalhos, a Avenida fique mais bonita e o trânsito flua melhor. “Com certeza a vai ficar muito boa. Os transtornos existirão, mas a obra vai acabar com muitos problemas” constata o motorista Lívio.

O estudante Leonardo diz que espera o melhor da obra, mas faz ressalvas. “A expectativa é a melhor possível, mas tenho dúvidas. Acho que vai ser uma faca de dois gumes. A acessibilidade vai melhorar, mas e a segurança, iluminação? Além disso, a própria faculdade [Uni-BH] poderia oferecer estacionamentos, aí a gente não precisaria parar na rua”.

O que muda

Serão construídos novos sete viadutos. Um deles será no Complexo da Lagoinha. Ele vai ser chamado de Rio Novo, por começar na altura da rua homônima. Deve atender às ligações do Viaduto Leste e da Rua Célio de Castro com a Avenida Pedro II, além das ruas Bonfim, Itapecerica e Além Paraíba. A nova construção, que servirá para interligar as duas vias, também poderá ser acessada pelo viaduto Oeste e pela Avenida Cristiano Machado.

De acordo com o cronograma do Departamento de estradas e Rodagem (DER/MG), vinculado à Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), as obras nesse trecho devem durar até dezembro deste ano, quando o viaduto será concluído e liberado para o trânsito.

O viaduto Formiga recebe este nome, pois terá início na Rua Formiga, próximo ao conjunto Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPI). A construção deve interligar a região do bairro São Cristóvão com a dos bairros Lagoinha e Bom Jesus.

O terceiro complexo de viadutos recebe o nome da Rua Araribá. Ele vai substituir a passagem pela Antônio Carlos que hoje é feita pela Rua Jequitaí. Os bairros Bom Jesus e São Cristóvão serão ligados por meio dele, o que, segundo a Setop, criará forte impacto na região do Hospital Belo Horizonte. De acordo com o cronograma do DER/MG, as obras também serão concluídas em dezembro deste ano.

A Rua dos Operários também dá nome a um viaduto, que terá mão dupla direcional e vai fazer a ligação da rua com a Avenida Paranaíba, e os bairros Cachoeirinha e Bom Jesus com São Cristóvão e Renascença. O viaduto Operários estava previsto para ser entregue à população no final de outubro, depois da finalização da concretagem das pistas. No entanto, até hoje não está finalizado.

Um total de 140 árvores foram retiradas para a realização das obras. Em contrapartida, 1.500 mudas serão plantadas ao longo do trecho entre a Rua Operários, no Bairro Cachoeirinha, até o Complexo da Lagoinha.

Primeira etapa das obras

Iniciaram-se, em dezembro de 2004, as desapropriações. Já o trabalho das obras, efetivamente, em janeiro de 2005. A primeira etapa de revitalização da avenida Presidente Antônio Carlos foi concluída com a duplicação de 1.340 metros da avenida, entre as Ruas Viana do Castelo (altura do Viaduto São Francisco) e Aporé (altura do bairro Aparecida).

Esse trecho possui a extensão de 3,9 quilômetros, de acordo com a assessoria de comunicação da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). Recebeu investimento de R$ 150 milhões de reais, dos quais R$ 53 milhões do Governo Federal, e o restante com recursos do Governo Estadual e da Prefeitura de Belo Horizonte.

A duplicação é responsável por uma melhor mobilidade da população no trecho, que hoje possui quatro faixas de rolamento em cada lado e duas pistas centrais exclusivas para ônibus. Também fez parte dessa fase das obras a construção da Trincheira Celso Mello de Azevedo, de aproximadamente 150 metros de extensão e 34 metros de largura. A construção é responsável por ligar as regiões Nordeste e Noroeste.

No primeiro momento das obras foram gastos mais de R$30 milhões em 309 desapropriações e 322 remoções de famílias.

Reportagem: Gabriela Sthefânia (manhã) & Priscila Robini (noite)
Correção: Giovanna Ribeiro e Teani Freitas.

Duplicando a avenida e construindo realidades


Avenida esburacada, trânsito lento e muita gente reclamando. A prefeitura responde em informativo: “Os transtornos são temporários, mas os benefícios são para sempre". E em meio a reclamações e expectativas estão os responsáveis por toda transformação, os trabalhadores operários. Muitas vezes fazendo papel de invisíveis, frente a uma sociedade apressada em ver logos os resultados.


Mais do que a duplicação da avenida Presidente Antônio Carlos, que vai trazer inúmeros benefícios para a região, o projeto proporcionou uma das condições mais almejadas pela população: a criação de empregos. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot) foram gerados até o momento 4.700 empregos diretos e indiretos.


Segundo dados do Sistema Nacional de Empregos (SINE) o setor da construção civil está entre os quatro que mais ofereceram vagas de emprego neste ano. O segmento ficou em terceiro lugar com 7.314 novos empregos e com a criação de mais de 18 mil postos de trabalho.


A oferta no setor de construção é mais intenso nas cidades de Belo Horizonte, Ipatinga e Contagem segundo dados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregos (CAGED). De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Econômico de Ipatinga, Marcos Sena, em entrevista ao Jornal O Tempo, a construção civil está em pleno crescimento o que proporciona a criação de muitas vagas em todo país.


Projeto de como vai ficar a Av. Antônio Carlos após a obra

A batalha diária


São pais de família, jovens, solteiros, casados, mineiros, cearenses, e mais uma infinidade de características que compõe o quadro de empregados na duplicação. Não apenas homens ajudando a construir um patrimônio de R$ 250 milhões, valor investido pelo Governo do Estado e a Prefeitura de Belo Horizonte, mas antes de tudo vidas, sonhos e histórias se cruzando e trabalhando juntos por um mesmo objetivo. “Já rodei o Brasil todo trabalhando em obras, desde 91 trabalho nesse ramo da construção”, conta o cearense Josué Maia Florenço, 41, ajudante geral.


Também conhecidos como peões, os operários são homens de fibra que lidam diariamente com uma jornada dura. “Acordo 5 horas da manhã para pegar serviço as sete, e muitas vezes só vou embora depois das oito da noite”, conta Josué. Mas mesmo diante de uma rotina difícil, alguns não perdem a esperança e sonham com um futuro mais tranqüilo. "No final do ano quero fazer um curso de Técnico de Segurança do Trabalho, pretendo continuar trabalhando com obras, mas não como peão”, conta Welbert Rocha da Silva, 19, ajudante geral.


O incentivo para os estudos, segundo Welbert, parte de dentro da própria empresa responsável pela mão de obra, Consórcio Andrade Gutierrez. A empresa oferece cursos de alfabetização nos canteiros de obras, através do programa de educação integrada, que tem o objetivo de facilitar o processo de capacitação profissional e o desenvolvimento na carreira.


Outro benefício concedido pela empresa é a alimentação. Muitos trabalhadores saem de suas casas ainda de madrugada e nem sempre se alimentam para começar o dia. Após uma freqüência de acidentes de trabalho foi constatado por algumas construtoras que isso devia-se a fraqueza, por falta de alimentação adequada. Percebendo isso, as empresas do setor passaram a fornecer café da manhã e os operários da duplicação da Antônio Carlos ainda recebem outras refeições, como almoço, café da tarde e jantar.


O ajudante Geral Josué Maia Florenço em seu horário de almoço


A população tem pressa para que as obras terminem e a prefeitura já anunciou a data de entrega, março de 2009. Mas para que uma construção de grandes proporções como essa fique pronta em até 14 meses, tempo total previsto, a empresa responsável faz restrições quanto a folgas. “Eu trabalho de segunda a segunda. Quando necessito de folga tenho que avisar antes, mas é muito difícil conseguir”, conta Josué.


Outro fator que apressa o término das obras é a Copa do Mundo de 2014, já que a avenida Antônio Carlos é um acesso direto ao Estádio do Mineirão que irá sediar alguns jogos do campeonato. E para que a obra termine no prazo estipulado houve também o aumento da jornada de trabalho, como explica Welbert, “eu chego na obra as 7 h e não tenho hora de sair. O horário de trabalho é até as 17h, mas as vezes é preciso ficar até mais tarde para dar conta do serviço”. Segundo ele é permitido a cada funcionário o cumprimento de três a quatro horas extras por dia.


A longa jornada de trabalho reflete na vida pessoal de cada operário, e nem sempre o esforço parece valer à pena. “Eu costumo sair no final de semana com minha namorada, mas por causa do cansaço tem dias que prefiro ficar em casa. Quando saímos, damos preferência para lugares perto de casa e programas mais tranquilos, como ir ao cinema“, diz Welbert.


As vezes o empecilho para a diversão ou o descanso com a família está na distância, como é o caso de Josué. “Eu não saio nos dias de folga, porque também nem tenho para onde ir, então fico em casa com meu amigo que veio trabalhar comigo. Minha esposa está no Ceará, minha terra natal, e me liga quase todo dia pedindo para eu voltar. Eu também não vejo a hora, apesar de eu já estar acostumado a viajar muito, tem horas que a saudade aperta”, diz.


Após a conclusão da duplicação, os operários já têm destino certo de trabalho. Segundo a Setop, Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, os trabalhadores serão encaminhados para outras obras. Welbert diz que irá participar da reforma do Mineirão e da restauração da Avenida Pedro I.


Welbert Rocha da Silva

A presença feminina nos canteiros de obras


Trabalhadores como Welbert e Josué não são raros de se encontrar na realidade brasileira. A rotina pesada de trabalho não é exclusividade desses operários e nem do sexo masculino. Segundo pesquisa feita pela Fundação João Pinheiro entre os anos de 2007 e 2008 nas famílias tradicionais – formadas por pai, mãe e filhos – a mulher teve participação no mercado de trabalho de 57,9%. Ou seja, mais da metade das famílias entrevistadas conta com a participação renda da mulher no sustento da família.


A participação feminina também está presente na duplicação da avenida Presidente Antonio Carlos. Elas atuam na obra como Técnicas de Segurança do Trabalho, como é o caso de Patrícia Soares, 32. “Apesar de ser um ambiente composto pela maioria masculina os operários me respeitam como mulher e como autoridade no trabalho”, conta.



Por Andreza Barcelos e Stephanie Gomes
Fotos: Divulgação e Andreza Barcelos




Vigilantes da obra

Operários da noite: enquanto as máquinas e merretas param, os seguranças tomam conta da Antônio Carlos
Boates, museus, hospitais e escolas. Festas de aniversário, shows, convenções e outros eventos. Em todos esses locais são comuns os seguranças trajados com terno ou em uniformes de trabalho bem parecidos com os dos guardas municipais. São eles os responsáveis por garantir a segurança do espaço físico e das pessoas que nele se encontram. Mas, o que nem todos sabem, é que em obras públicas como a que está sendo realizada na avenida Presidente Antônio Carlos esses profissionais também estão presentes.

No turno da noite quando os tratores já foram desligados e os operários vão embora é que eles aparecem. Todos os dias da semana lá estão os vigilantes tomando conta de toda a infra-estrutura da Antônio Carlos das 19h até às 7h da manhã. A função primordial desses trabalhadores é a de zelar pelos equipamentos, máquinas e até mesmo pelos pedestres que circulam próximo as mediações da obra.

É esta a rotina de Warlem Pereira de 26 anos, um dos 16 seguranças que compõem o corpo de funcionários terceirizados pela prestadora de serviços em segurança Minas Segur. Ele trabalha um dia pela madrugada inteira com apenas um pequeno intervalo para refeição e no dia seguinte ganha folga para repor as energias. "É um trabalho cansativo e que exige muita atenção durante todo o tempo, não posso permitir distrações e muito menos que o sono me atrapalhe", afirmou Warlem. "Nunca se sabe quando uma pessoa irá transpor a barreira de proteção para pedestres e consequentemente correr o risco de sofrer um acidente em uma vala ou buraco", completou.

Segundo Alvaro Silva Carneiro, coordenador do corpo de seguranças, as ocorrências mais comuns em seu posto de vigilância na Avenida Antônio Carlos são as obstruções de passagens feitas pelos pedestres. "Alguns mendigos invadem os trechos em obra para procurarem nos entulhos algo de valor, já os demais passam pelo caminho errado por terem pressa e imaginarem que pulando a malha de proteção irão conseguir uma espécie de atalho", informou o segurança.
Crédito: Ailton do Vale
Mesmo com toda a sinalização correta os pedestres que transitam próximo ao local da obra insistem em transpor as redes de proteção

Os vigilantes são instruidos para que em casos como esse solicitem aos pedestres que se retirem de imediato do local para que possam garantir sua segurança. Ao contrário do que muitos acreditam, em casos de de afrontamento ou qualquer outro desrespeito por parte daqueles que insistem em cometer alguma transgreção das normas, eles jamais devem reagir com truculência, mesmo porque o trabalho deles é o de garantir o bem-estar físico das pessoas que por ali estão e não o contrário. Sendo assim, a primeira ordem é a de comunicar aos chefes de departamento de segurança para que eles possam esclarecer à população que aquele não é o melhor local indicado para seguir caminho. Porém. se um determinado indivíduo persistir em violar as regras de conduta para os pedestres, os seguranças são obrigados a encaminharem a situação para as autoridades, alertando a polícia ou aos agentes da BHTrans.
Reportagem: Ailton do Vale

Sem dor, sem ganho

Grande projeto de revitalização da Antônio Carlos pede paciência

Logo pela manhã, já é possível perceber o transtorno no trânsito na Lagoinha, região central de Belo Horizonte. Às 7h20, o viaduto que leva da rua Curitiba à Antônio Carlos trava e os veículos demoram cerca de 10 minutos para fazerem o trajeto que, sem engarrafamento, levaria cerca de um décimo do tempo.

Seguindo o planejamento dos órgãos responsáveis – Governo do Estado de Minas Gerais e Prefeitura de Belo Horizonte –, as obras realizadas na Avenida Presidente Antônio Carlos, uma das principais e mais movimentadas da capital mineira, deveriam trazer melhoria em diversos setores. Não só aqueles relacionados com o dia a dia das pessoas – como, por exemplo, a melhoria na fluidez do trânsito e requalificação das áreas urbanas do entorno. Também fazem parte do projeto, de acordo com informações da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), medidas para gerar a movimentação do comércio. No entanto, na prática, alguns comerciantes vêm enfrentando dificuldades que entram em conflito com as promessas da obra.

É o caso dos irmãos microempresários Altair e Edson. Ambos são proprietários da Copiadora 2 Irmãos, localizada na Avenida Antônio Carlos, 457. Eles sofreram na pele os transtornos causados pela necessidade de desapropriação de alguns imóveis próximos à Antônio Carlos. A loja de cópias antes era localizada na Rua Francisco Soucasseaux, 258, ao lado do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), via paralela à avenida. Altair conta que como eram inquilinos no imóvel, simplesmente foram informados de que teriam de encontrar outro lugar para trabalhar, sendo pegos de surpresa. “O proprietário disse que, quando as obras começassem, a gente não ia precisar sair daqui. Mas aí teve uma mudança no projeto e tivemos que arrumar um outro lugar de última hora”, conta o microempresário. E isso foi só o início.

O proprietário do imóvel em que inicialmente a Copiadora 2 Irmãos estava instalada não ajudou Altair e Edson a encontrar um novo local de trabalho, embora tivesse assumido o compromisso. Coube aos dois adaptar-se à nova situação. Altair conta que não queria sair de perto do Centro Universitário, já que a maioria dos clientes da loja consistia em estudantes e professores da instituição. Não havia local disponível na região, então a solução foi partir para o improviso. Foi feito um acordo com os donos de uma lanchonete e uma oficina localizados do outro lado da Antônio Carlos. Ambos os imóveis são vizinhos, e havia um espaço onde algumas motos da oficina eram guardadas. No entanto, o local era alugado do proprietário da lanchonete. Foram necessários: um contrato e uma quantia considerável em dinheiro como adiantamento do aluguel, para que a copiadora fosse novamente instalada.

A loja de Altair e Edson vende material de escritório e utilidades – como chaveiros, isqueiros, cartões telefônicos, chicletes e balas – e faz serviços de xerox e impressão. Agora, o comércio ocupa uma área de mais ou menos 15m². O lugar, espremido entre a oficina e um restaurante, abriga três máquinas copiadoras, duas impressoras e um computador, além dos outros produtos comercializados. Os que procuram pela loja na rua Francisco Soucasseaux veem uma faixa pendurada junto ao muro do Uni-BH com os dizeres: “Xerox mudou”, e a indicação do novo endereço. Mesmo com a preocupação do indicativo, Altair afirma ter perdido cerca de 60% da clientela. Para ele, as obras trouxeram mais prejuízos do que benefícios.

Antiga localização da Copiadora 2 Irmãos

Outras reclamações

A estudante de psicologia Raissa Matos, 22 anos, precisa passar pela Antônio Carlos todos os dias pela manhã, já que o campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), local onde estuda, fica na região da Pampulha. Ela conta que ainda não se acostumou com as modificações que estão ocorrendo na avenida. “Todo dia eu assusto. Está sempre bagunçado, cheio de trator e carro de obra pertinho da rua e o povo não sabe dirigir assim. É o caos, de verdade”, revela. Por causa do difícil trajeto para chegar à faculdade, Raissa tem que sair mais cedo de casa. Mas, de acordo com ela, isso não melhora muita coisa.

Morador de um dos mais tradicionais conjuntos habitacionais da capital, o IAPI, o funcionário público Tiago Alves, 21, viu toda a região próxima ao seu apartamento ser modificada. Muitos prédios foram demolidos, de forma que o prédio em que reside se destaca no meio da “desertificação” imobiliária que as reformas geraram. A avó de Tiago, Maria de Lourdes Alves e Silva, 75, reside na região da Lagoinha há 35 anos, desde que o local era considerado uma área boêmia de Belo Horizonte. Sendo assim, acompanha as mudanças de perto. “Vai mudando tudo, né? Hoje em dia a região toda está diferente. Eu até acho que esse prédio [conjunto IAPI] só está de pé porque foi tombado como patrimônio”, desabafa Maria de Lourdes.


Há consequências das obras que preocupam e atrapalham o dia a dia dos moradores da região e usuários das vias de trânsito da avenida. “Eu me incomodo muito com a ‘barulhada’ dessas máquinas na Avenida. Tem muita gente idosa, como a minha avó, que mora na região e tem que conviver com isso”, explica Tiago. Ele ainda ressalta que, como trabalha e estuda o dia todo, não é tão afetado por essa situação. Já Maria de Lourdes, que fica em casa a maior parte do dia, acha difícil ver tudo em volta da sua casa mudar da forma rápida como está sendo. Além disso, tem que se preocupar em fechar janelas em determinados momentos do dia. Isso evita a entrada de poeira dentro de casa e alivia um pouco do barulho das buzinas e máquinas de obras.



Ponto de ônibus onde antes havia um posto de gasolina

Melhorias a longo prazo

Os trabalhos realizados na Avenida Antônio Carlos causam, desde o início, transtornos para todos os usuários das vias de trânsito, comerciantes e moradores da região. Esse fato conflita com o resultado final almejado pelos órgãos e secretarias que estão realizando os trabalhos.

De acordo com informações da Setop, aproximadamente 4.700 empregos diretos e indiretos foram criados para a execução dos trabalhos de obras. Também é estimado que 3 milhões de pessoas – entre elas, Tiago Alves, Maria de Lourdes, Raissa Matos e Altair – sejam beneficiadas com as mudanças. Além disso, é previsto que, a Prefeitura de Belo Horizonte arrecade mais de 3 milhões de reais de Imposto Sobre Serviço (ISS), devido ao volume de investimentos nas obras.

Os benefícios esperados para os habitantes da região vão desde atrair investimentos e facilitar o deslocamento de trabalhadores, a movimentar o comércio da área – ao contrário do que tem constatado Altair, um dos proprietários da Copiadora. A assessoria da Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou que está ciente dos contratempos que todos os usuários da avenida enfrentam. No entanto, salienta que esse é um efeito passageiro, e que se espera que as obras gerem resultados satisfatórios a longo prazo, com o término dos trabalhos. Em outras palavras, é uma questão de paciência.

O projeto de revitalização e duplicação da Antônio Carlos é ambicioso. A extensão das obras, que está em sua segunda fase, é de 2,2 km e a previsão de conclusão é para março de 2010. Ao todo, 250 milhões em investimentos foram feitos pelo Governo de Minas Gerais e Prefeitura de Belo Horizonte. Atualmente, de acordo com a assessoria da BHTrans, 85 mil veículos transitam por dia na região, que está com estreitamento de pista no sentido Pampulha.

A Setop informa que 240 imóveis foram desapropriados para o desenvolvimento das obras – a mesma situação de Altair e Edson. De acordo com a Setop, somente na segunda etapa das obras, R$ 111 milhões foram destinados às famílias que tiveram que deixar seus imóveis. Nas primeira etapa, que foi concluída em novembro do ano passado, 16 milhões de reais foram aplicados para a desapropriação e indenização dos proprietários dos imóveis afetados.


A avenida foi desenvolvida com uma proposta importante, e as obras para sua melhoria datam de um bom tempo. A Antônio Carlos foi aberta durante o governo de Juscelino Kubitschek, com o objetivo de ligar o centro de Belo Horizonte à região turística da Pampulha. Até hoje ela é o principal acesso a locais como o Estádio Governador Magalhães Pinto (popularmente conhecido como Mineirão), campus da UFMG e Lagoa da Pampulha. A primeira fase das obras começou em 2005, com a duplicação, que começava no viaduto São Francisco e seguia até o cruzamento das avenidas Bernardo de Vasconcelos e Américo Vespúcio, onde foi construída uma trincheira. Além de dar continuidade aos trabalhos iniciais das obras, essa nova fase do projeto também pretende atender as demandas de trânsito que surgirão com a Copa o Mundo de 2014.


Vista da Avenida Antônio Carlos da Rua Rio Novo, que sofreu mudanças de circulação

Reportagem de Giovanna Ribeiro e Teani Freitas. Turma JRM6-B

Fotos: Giovanna Ribeiro

Correção: Gabriela Santos e Priscila Robini

Transformações urbanas e humanas


Vidas modificadas pelas construções de concreto em 111 anos de história da capital mineira

Caso Lúcio Babosa compusesse sua mais famosa letra, Cidadão, neste ano de 2009 e tivesse BH como cenário, talvez a canção fosse um pouco diferente. Ao invés de versos como: “Está vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar” teríamos: “Está vendo aquela avenida, moço? Ajudei a duplicar”. Afinal é este o sentimento dos quase cinco mil operários envolvidos nas obras de duplicação da Avenida Antônio Carlos, um dos maiores corredores de acesso da capital mineira de acordo com dados da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas.


A sensação de participar da construção da maior obra da história da cidade é um misto de alegria, esperança e até mesmo medo. “Meu coração fica apertado de alegria de poder ver, a cada dia, este lugar se transformando e eu participando de tudo isso. Mas, ao mesmo tempo tenho medo de não conseguir ir até o fim, ou de que façam mau uso de tudo isso aqui”. E é assim, com os olhos envoltos de alegria e certa melancolia, contornados por uma pele castigada por sol e poeira, que o servente M.S. – que não quis ser identificado – descreve seu sentimento em relação ao momento que vive.



Foto: Mariana Medrano

M.S compõe o cenário de mudanças em sua rotina de trabalho



Natural de Itacambira, Vale do Jequitinhonha, M. S. há um ano e meio resolveu deixar sua pacata cidade – com pouco mais de cinco mil habitantes – e uma inexistente oportunidade de emprego, para tentar a vida na cidade que Juscelino Kubistcheck modernizou quase setenta anos atrás. As inovações tecnológicas do presidente “Bossa Nova” plantaram a semente que brotou no atual Governo do Estado. Assim, as camadas menos abastadas de Minas Gerais passaram a acreditar no lema: “Belo Horizonte, a capital de todos os mineiros”.

Foi assim, com o coração cheio de esperança que M. S. desembarcou na rodoviária da capital. No primeiro ano trabalhou como faxineiro de uma loja de roupas na área central, depois fez bicos como servente de pedreiro. Até que no final de 2008 viu o sonho de trabalhar com carteira assinada tornar-se mais real. Através da indicação de um amigo conseguiu a oportunidade, dada pela construtora responsável pela obra na Antônio Carlos, para trabalhar como servente de obra da empreitada que estava por iniciar.



Parte desta “massa”


Foto: Mariana Medrano
Homens e maquinário: trabalho em conjunto


Espalhar concreto, montar armações de ferro e carregar ferramentas. Este é basicamente o roteiro de trabalho de M. S. e seus companheiros de jornada. A diária de trabalho é dividida por turnos. Ele trabalha no turno da manhã e cumpre horário de almoço de onze horas ao meio-dia. E é nesta uma hora de descanso que M.S. se une ao ajudante geral Josué Maia Florenço, para juntos admirarem o marco que estão ajudando a construir. “Dá um orgulho danado ver esta avenida crescendo mais e mais. E o mais bacana é saber que tem minha mão nisso tudo”, revela Josué.

M. S. também tem a mesma empolgação que o colega. Porém, é um pouco mais cauteloso. “Sinto-me muito feliz por estar participando desta obra, afinal é dela que estou tirando meu sustento. Mas ao mesmo tempo bate uma tristeza, sabe? Porque quando ela estiver pronta e eu passar por aqui, pode ser que eu veja tudo diferente de quando estava pronto e limpo. Sabe como é, né? O povo não respeita nada. Vive quebrando e sujando tudo que vê pela frente” observa.


Colega de trabalho de M. S., Josué Florenço tem história parecida ao do companheiro de labuta. Ele veio do Ceará, e também enfrenta uma rotina de trabalho de dez horas diárias. O trabalho ocupa todo o seu tempo. De segunda a segunda pode ser visto em plena ação entre os tratores, britas e concretos que se tornaram algo comum na Avenida.

“A gente cansa sim, mas não tenho do que reclamar. Deus foi muito bom de me dar esta oportunidade. É claro que a saudade da minha terra bate, mas assim que a obra terminar volto pra minha cidade”, conta esperançoso. Ele tem mesmo expectativa e, mais do que isso, muitos sonhos. Um deles é muito simples e até mesmo de fácil realização. “Sabe uma coisa que iria me deixar muito feliz? Que colocassem uma placa com os nomes de todas as pessoas que trabalharam aqui na avenida. Mãe não ia caber em si de tanto orgulho, sabendo que o nome do filho dela está gravado aqui na terra do pão de queijo”, anseia Josué.

De certa forma, é no suor e no olhar longe desses trabalhadores que se encontra a alma do que um dia virá a ser parte da história de uma pequena cidade ou mesmo do mundo. Mas quantas pessoas param para observar, sequer um momento, a rotina desses homens que também são cidadãos? Quantas já se propuseram a refletir, não só sobre os transtornos causados ou os benefícios futuros da obra, mas também a respeito do esforço e da dedicação de cada um que coloca a “mão na massa”?

Foto: Mariana Medrano


A obra reúne diversos tipos de gente e seus sonhos


Josué e M. S. são muito parecidos e ao mesmo tempo muito diferentes. Enquanto um tem o grande desejo de mudar de vida, o outro carrega no peito a esperança peculiar a muitos nordestinos, o sonho de voltar para casa. Mas as desilusões sofridas no dia-a-dia fizeram M. S. sonhar com os pés bem fincados no chão. “É claro que é um grande prazer poder participar de tudo isso. De reconstruir parte da cidade. Mas, ao mesmo tempo, dá uma sensação de ter menos importância do que as outras pessoas que passam por aqui. A maioria delas nem olha, acha que somos bichos. E isso incomoda”, desabafa M. S.


A labuta diária dos homens que ajudam a erguer construções históricas, muitas vezes, é envolta de sentimentos que não são transparecidos na confusão das obras. ”Mesmo com muito trabalho dá tempo de fazer bons amigos”, confessa o cearense. A memória da avenida, do prédio, do viaduto, que será parte do cotidiano de milhares de pessoas, começa a partir do momento que o trabalhador veste o uniforme e sai da sua casa para o primeiro dia de serviço.



A cidade só cresce


Belo Horizonte caracteriza-se por ser uma cidade projetada, bem estruturada. Construída com o ideal de ser uma capital moderna, era intitulada Cidade Jardim, por possuir grandes áreas verdes e árvores circundando seus limites. Mas a intenção dos governantes, a começar por JK em 1940, era transformá-la em metrópole e inseri-la em meio às grandes e badaladas capitais do Brasil.


Geralmente, são nas conversas em família ou em rodas de amigos que surgem lembranças. Muitas delas sobre como alguma parte importante da cidade ou até ela mesma foi construída. Vindos, em sua maioria de pessoas mais velhas, os comentários e divagações soam emocionados. Muitas vezes aqueles vizinhos antigos, avós, tios ou pais tiram o dia para contar as histórias de transformação de um determinado local de Belo Horizonte.


É assim para a aposentada Dinorah Monteiro Reis. A moradora que comemorou seu aniversário de 80 anos em 2009, conta com certa nostalgia que “a Avenida Afonso Pena era o único lugar em que se podia ver prédios. A gente podia brincar nas ruas sem preocupação, pois não tinha violência de jeito nenhum. Lembro também de ir no Cine Glória e no Cine Floresta. A matinê era ótima”. Com o trânsito dos dias atuais, em que aproximadamente um milhão de carros circulam pelas ruas, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, seria impossível imaginar que a Afonso Pena só ia da Feira de Amostras, atual rodoviária, até o Bairro do Cruzeiro. “Ali acabava (a Av. Afonso Pena) e começava uma estradinha que ia até o alto da Serra do Curral. Belo Horizonte tinha um clima muito bom”, ressalta Dinorah.







Foto: Arquivo Público Mineiro


Av. Afonso Pena na década de 1940 com seus bondes e paralelepípedos


Desde longa data, a aposentada observa grandes obras serem construídas na cidade. “O que mais me marcou foi a construção do Edifício Acaiaca. Belo Horizonte não possuía prédios daquele tamanho, era uma coisa fabulosa e imponente”. O alvoroço que é feito sobre as transformações urbanas também não tinha tanta força antigamente. “Foi bem surpreendente ver as imagens dos índios na fachada do Edifício, nenhum de nós sabia. Naquela época os jornais não divulgavam muitas coisas. A gente só descobria o que estava sendo planejado quando acontecia”, destaca.


Mudanças de horizontes


Outras recordações, desta vez da década de 1960, surgem do engenheiro químico Ricardo Hermont, morador da cidade há 51 anos. Ele se lembra, quando criança, da falta do comércio e do transporte em certas regiões. “A pessoa que precisasse fazer compras só tinha o centro da cidade como opção. Além disso, os ônibus em BH também atendiam em um único sentido. Se quisesse ir de um bairro para outro, tinha que pegar dois ônibus: um para o centro e outro para o bairro.” Porém, Ricardo não nega que antigamente a vida era muito mais tranqüila, mesmo com as vantagens e comodidades que a população possui nos dias de hoje. “Morava no Santo Antônio e estudava no Colégio Pandiá Calógeras, no Santo Agostinho. Ia à pé todos os dias. Além de não haver perigo, aconteceram vezes de eu ir para lá sem ver um único carro nas ruas”, recorda.


Quanto às construções, o engenheiro conta que inúmeros bairros não existiam. “Lembro-me da construção do bairro São Bento e das obras de infra-estrutura da Avenida Prudente de Morais. Presenciei a construção do Mineirinho, do Palácio das Artes, do BH Shopping e até mesmo das grades sendo colocadas ao redor do Parque Municipal”. As passagens entre um bairro e outro também eram diferentes, com ares de sítio. “Era possível ir para a região da Pampulha, partindo do Centro, passando por uma sinuosa rua paralela à Avenida Antônio Carlos, a Manuel Macedo, toda verde com grandes trechos de mata”, descreve.


A verdade é que o progresso da cidade ainda é centro das ambições, uma vez que as atuais gerações continuam a presenciar a construção de prédios, ruas e avenidas. Com o crescimento exagerado das metrópoles e constante evolução da produção industrial fica cada vez mais difícil ouvir relatos sentimentais a respeito desse desenvolvimento. “O crescimento urbano trouxe inúmeras vantagens para BH na medida em que a cidade tornou-se mais cosmopolita. Porém, a ocupação descontrolada da capital mineira, diferentemente do que foi planejado quando construída, trouxe muita poluição e o aumento das áreas de risco”, destaca Ricardo. Para Dinorah, apesar da conveniência de deslocamento e variedade na oferta de serviços, a cidade cresceu demais e muito rápido. “Quando me lembro da vida sossegada e tranqüila que levava por aqui e comparo com toda a modernidade de hoje, me sinto um pouco perdida nessa confusão. Shopping é uma coisa muito diferente. Para mim, fazer compras ainda é ir na ‘Cidade’”, completa.



Por: Mariana Medrano e Najela Bruck