Vanessa Calvo
Alunos do UNI BH sofrem com o barro causado pelas obras
Muito barulho, problemas, desapropriações, trânsito intenso, caos. Esse é o cenário vivido pelos estudantes do UNI BH, comerciantes e moradores desde 2008. Na Av. Antônio Carlos, uma das principais vias de acesso ao centro da cidade, estão sendo realizadas obras para a melhoria do trânsito na capital, que já passaram por duas etapas. No segundo semestre de 2009, começou a terceira etapa. Ruas foram fechadas, desvios foram feitos para que fosse realizada o alargamento da avenida. O prefeito Marcio Lacerda afirmou que a obra é fundamental para estrutura viária de Belo Horizonte e simboliza a consolidação da cooperação estreita entre a prefeitura da capital e o Governo do Estado. Mas essa melhoria trouxe transtornos aos moradores da capital, o trânsito se tornou lento, principalmente para aqueles que trafegam pela Antônio Carlos. Na época das chuvas o problema vem se agravando cada vez mais. Os mais prejudicados são os alunos e funcionários do UNI BH (Centro universitário de Belo Horizonte), que enfrentam trânsito lento e difícil acesso as principais ruas em torno da avenida.
Com a chegada das chuvas os carros enfrentam uma maior dificuldade com o acesso a Antônio Carlos, principalmente no complexo da lagoinha. Os alunos e funcionários do Centro Universitário sentem o drama. “Desde que começou a reforma eu tive que vir de carro, o túnel da lagoinha fica impossibilitado de você andar. Agora eu passo por cima, fazendo um grande desvio. Se eu passar pela Antônio Carlos fico pelo o menos 30 minutos parada”, ressalta a estudante do UNI BH Maíra Moreira. Não só o grande fluxo de carros é a única dificuldade enfrentada, o barro causado pela construção e o piso escorregadio, é uma das grandes preocupações para os estudantes. “Eu sinto um desconforto enorme desde o começo das obras. Estamos sem calçada, com apenas barro puro. Quando eu desço do ônibus acabo pisando na lama e ficando toda suja”, diz a universitária Meyre Ribeiro. Com o tempo chuvoso a situação ainda é pior. De acordo com o professor e coordenador do laboratório de jornalismo impresso Fabrício Marques, muitos alunos estão deixando de ir a aulas pela dificuldade que enfrentam com o trânsito e com a lama causada pelos temporais na porta da instituição de ensino superior. A professora do curso de designer gráfico Paula Almeida tem reclamações semelhantes. “Até para a gente que vem de carro é difícil, não tem onde estacionar, com a chuva a dificuldade de se chagar no local de trabalho é maior e sem contar no barro que a gente tem que pisar. É um transtorno enorme”.
Com o mau tempo, a terra vermelha por causa da construção, juntamente com a água, se transformam em uma lama que dificulta a passagem, fazendo com que os alunos cheguem com os pés sujos e com mais probabilidade de escorregarem, devido ao piso molhado. Para tentar amenizar, os trabalhadores da obra colocaram britas, mas mesmo assim ainda há riscos. Em dias de sol muito quente, a poeira é um fator que incomoda muito.
Chuvas causam transtornos nas calçadas
No turno da noite quando os temporais são de maior intensidade os transtornos pioram, ruas alagadas, carros não conseguem trafegar e os alunos não conseguem chegar ao Centro Universitário. Outro grande incomodo é a mudança dos pontos ônibus. No sentindo centro – bairro não há um ponto de ônibus seguro para os estudantes, o que aumenta os riscos de atropelamentos. Como não existe passeio, os motoristas muitas vezes deixam as pessoas quase no meio da avenida e essa situação é ainda pior nos horários de pico, em que a avenida tem uma grande movimentação. Os ônibus intermunicipais têm uma situação mais agravante, ficam muito distantes e, pela falta de calçada, os pontos se encontram no meio da pista.
À noite, para aqueles que utilizam o transporte intermunicipal é ainda mais grave, eles sofrem com os perigos de assalto, o desconforto com as britas, o barro e a pouca iluminação. “Outro dia eu quase fui atropelada, estava indo para o ponto de ônibus à noite e um motoqueiro confundiu a área reservada para pedestres com a pista para carros. Levei um susto!”, completa a estudante do Centro Universitário de Belo Horizonte Júlia Gracielle.
Viviane Ferreira
Pontos de ônibus muito distantes é um problema para estudantes
No sentindo bairro-centro as complicações são semelhantes. O tempo de acesso ao complexo da lagoinha aumentou. Os alunos para não perderem as aulas estão tendo que acordar mais cedo. Para aqueles que trabalham e estudam a noite, a compreensão dos professores é importante nos atrasos e até nas faltas às aulas. “Eu estou acordando mais cedo para conseguir chegar na hora. Antes eu acordava às 6h30, agora acordo às 6h para pegar o ônibus mais cedo, mesmo assim ainda chegou um pouco tarde”, explica Mariana Cardoso estudante da instituição. Até os motoristas do transporte público estão sensibilizados com a falta de mobilidade dos alunos. “Tento deixar os alunos o mais perto possível, da forma mais segura. Vejo todos os dias o desespero de muitos por causa do trânsito. A situação está caótica para todos”, fala o motorista da linha 5401 que não quis se identificar.
As vans universitárias passam pelo o mesmo transtorno. As ruas de acesso as portarias do UNI BH, estão praticamente interditadas, dificultando o retorno e o estacionamento dos carros. “A solução é aguardar os alunos na Antônio Carlos mesmo, já que não tem como entrar nas ruas e nem estacionar. Deixando-os expostos a todos os tipos de perigos, inclusive para nós, que podemos ser multados por isso”, reclama Eduardo Silva que faz transporte universitário. Os alunos usuários de vans também se queixam. “Antes a van espera os alunos na portaria próxima a Antônio Carlos, como o retorno é muito grande, agora ele tem que pegar a gente na Rua Diamantina para tentar diminuir a volta que ele faz., afirma Meyre.
A pouca iluminação também é uma preocupação para os alunos e funcionários. Os grandes números de assaltos na região antes das obras eram frequentes, agora com quase não existência de luz, no turno da noite o risco é maior ainda. “Eu estava indo para o ponto de ônibus após terminar um trabalho, e já estava à noite, como a rua é mal iluminada e passam poucas pessoas, eu quase fui assalta. Com as obras tenho medo de se tornar constante”, denúncia à aluna Luisa Helena Novaes.
Os inúmeros problemas não param por ai, o constante barulho causado pelas máquinas, tem prejudicado a concentração dos alunos. “Eu estava fazendo prova, tentando me concentrar nas respostas e não conseguia. O barulho era intenso, dificulta muito a nossa concentração”, declara Mariana.
Essa tem sido a rotina dos alunos e funcionários do UNI BH. Perigo, lama, incômodos, transtornos e muita paciência para conseguir estudar e trabalhar. No ultimo dia 7 de outubro, após uma intensa chuva, os estudantes da instituição passaram por um susto. Salas de aula e corredores inundados, portarias intransitáveis, ninguém saia e ninguém entrava. Minutos ilhados em meio à água suja por causa do barro causado pela reforma. Os alunos esperam que a obra acabe no prazo determinado. Até março de 2010, os estudantes ainda vão continuar enfrentando todas essas dificuldades.
Trânsito
Segundo Ronan Aguiar, assessor de imprensa da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS), circulam por dia, 85 mil veículos na Avenida Antônio Carlos. Com o período confuso os desvios vão sendo feitos à medida que a obra avança. “Não podemos precisar quantos agentes serão necessários nesse período. Em dias de maior movimento como sextas-feiras, dias de jogos ou vésperas de feriado, redobramos a atenção e deslocamos vários agentes para orientar o trânsito”, explica.
Ainda de acordo com Ronan, a última intervenção realizada foi no dia 17 de setembro. “Fechamos algumas ruas no entorno da avenida. Tudo é feito com sinalização e muitos panfletos são distribuídos à população. No momento as intervenções são maiores por volta do conjunto IAPI”. Em frente ao Centro Universitário de Belo Horizonte o cruzamento da Avenida Antônio Carlos com rua Diamantina foi fechado, facilitando assim, a travessia de alunos e funcionários. Para a estudante de Recursos Humanos, Sarah Carolina Pereira Fernandes, ficou mais fácil chegar ao ponto. “Antes não tinhamos tempo para atravessar. Ficávamos no meio dos carros e ônibus. Era muito perigoso. Com o fechamento da rua podemos atravessar a perigosa avenida com mais tranqüilidade”, ressalta.
Passam pela Antônio Carlos, 43 linhas de ônibus e mais de 100 mil pessoas utilizam o transporte coletivo. A obra de alargamento que prevê mais seis pistas e sete viadutos tem um custo de 250 milhões de reais.
Medidas para combater o stress
Trânsito lento, engarrafamentos e o barulho excessivo, fazem parte do cenário da capital mineira e eleva o stress dos Belo Horizontinos “às alturas”. Para alegria de muitos, é possível evitar ou pelo menos diminuir o problema. Driblar a ansiedade quando os carros estão parados não é tão difícil assim.
A estudante Ana Carolina Oliveira, tenta sair de casa com pelo menos meia hora de antecedência, ela deixa o conforto da cama para não se atrasar para às aulas. “Saindo mais cedo eu garanto o meu dia, não fico aflita pensando que não vai dar tempo de chegar. Manter a tranquilidade para mim é fundamental”, conta Ana Carolina.
De acordo com o médico psiquiatra Ênio Rodrigues, a estudante acerta quando levanta mais cedo, segundo ele pela manhã nosso organismo sofre alterações de humor e a irritabilidade no trânsito pode deixá-lo ainda mais comprometido. “É bom que as pessoas atendam para isso, sair de casa correndo sem fazer uma alimentação adequada e pegar engarrafamentos pode deixar o motorista extremamente estressado. Isso prejudica tanto sua vida social quanto sentimental, além de em alguns casos acarretar em outros problemas, como por exemplo: enxaquecas, depressão, insônia, entre outros”, explica o psiquiatra.
Outros usam a tecnologia como forma de fuga do problema. “Dentro do ônibus eu procuro ouvir músicas para não ficar pensando na lentidão do trânsito. Se eu dispersar e vê o que de fato está acontecendo fico muito nervosa. Então fecho os olhos e me volto só para a melodia”, comenta a estudante Júlia Gracielle.
Segundo Rodrigues, o ser humano não consegue se concentrar em duas coisas ao mesmo tempo, ele pode às vezes oscilar a atenção entre uma coisa ou outra, mas nas duas. “Ouvir música dentro do carro ou no transporte coletivo pode sim minimizar o stress. As pessoas que estão ouvindo músicas podem conseguir enfrentar com mais conforto o caos do que aquelas que se concentram somente no trânsito”, ressalta.
O Doutor Rodrigues deixa algumas dicas para aliviar a tensão na hora do trânsito intenso e aproveitar o tempo:
- Se puder, saia antes ou depois dos horários de pico;
Por: Atená Maria, Vanessa Calvo e Viviane Ferreira
Corrido por: Isabella Barroso, Mariana Deslandes, Vitor Teixeira