domingo, 1 de novembro de 2009

Sonhos e desenvolvimento

Duplicação da Antônio Carlos muda rotina da população, mas obras são promessa de melhorias de vida para operários da construção civil

Crédito: Gabriela Sthefânia

Trecho da Lagoinha que passa por obras desde janeiro deste ano

O que se pode ver em meio à terra, tratores, barreiras e poeira, são operários trabalhando a todo vapor. Eles se esforçam para darem conta do serviço dentro do prazo estabelecido, que é março de 2010. Prova disso é o pedreiro Laudemiro Soares, que já trabalha há dois anos para a construtora Andrade e Gutierrez, a responsável pela obra. Laudemiro estava trabalhando na obra do córrego do Onça quando foi transferido para a duplicação da Avenida Presidente Antônio Carlos devido à grande demanda do empreendimento.

“Quando as obras começaram aqui na avenida, eu estava lá no Onça e, apesar de ter mais trabalho, gostei de ser transferido. Além disso, estou satisfeito com as novidades e com o aumento do número de obras que estão aparecendo. Isso muito bom porque é mais dinheiro no meu bolso e quanto mais a gente trabalha mais a gente aprende, além de conhecer novos colegas”, afirma.

O Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot) informa que 4.700 empregos diretos e indiretos estão sendo gerados. O cálculo é de que a cada R$ 30 mil investidos diretamente em infraestrutura um emprego foi gerado. O Consórcio Andrade Gutierrez / Barbosa Mello é a empreiteira responsável pelas obras, no trecho de 2,2 quilômetros de extensão.

O carpinteiro Dedico de Santos Lopes trabalha para a construtora Andrade e Gutierrez desde 1987. De acordo com ele, a duplicação das obras da Avenida Antônio Carlos gerou muitos empregos. “O que percebi é que tem muita cara nova aqui. Como é uma obra grande, tiveram que contratar muita gente. E isso é bom! Além de gerar renda para essas pessoas, traz gente nova para o ramo, força de trabalho renovada”, ressalta o operário.

Vanderley Custódio Guilherme saiu de sua cidade natal, São Domingo do Prata, e veio para Belo Horizonte no início deste ano à procura de emprego. “Fiquei sabendo que eles estavam fichando para a obra e deixei meu telefone na avenida mesmo, numa cabine que eles montaram”. A oportunidade logo surgiu. Após um mês, Vanderley recebeu um telefonema, participou de uma entrevista e, há dois meses e meio, conquistou seu emprego de carteira assinada com a função de sinaleiro.

Outro trabalhador da obra é Daniel Dantas Rodrigues. Daniel sempre trabalhou como auxiliar administrativo, mas estava desempregado. Até que surgiu a vaga de sinaleiro. “Meu amigo me falou que a Andrade Gutierrez estava precisando de funcionários para a obra e que estava recebendo currículos. Levei o meu lá no escritório deles e, com pouco tempo, fui contratado”, pontua.


Crédito: Priscila Robini

Pedestres e motoristas disputam espaços e se ariscam meio as obras da avenida
Desconforto inevitável

Congestionamentos, buzinas, sinais fechados, pedestres se arriscando nas ruas, pisando em britas e cruzamentos complicados. Esse é o cenário que motoristas encontram ao passar pelo trecho em obras da Avenida Presidente Antônio Carlos. O motorista de transporte universitário, Lívio Guedes, passa pelo local todas as tardes. Ele leva sete estudantes do turno da noite para o Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) e estaciona sua van próxima da entrada da faculdade pela Rua Francisco Soucasseaux, paralela à avenida.

“Acho que o maior problema aqui é a sinalização. Para a gente que passa por aqui e conhece a região não é tão difícil, a gente sabe. Mas quem não conhece passa apertado”, conta.

O motorista teve que adiantar o horário em que passa nas casas de todas as alunas e mudar seu trajeto. Tudo em função do trânsito pesado que enfrenta para chegar ao destino. Buscar trajetos alternativos é a solução encontrada por muitos condutores assíduos do local, como Lívio.

Com extensão total de 7,5 km, a Avenida Presidente Antônio Carlos funciona como uma das principais vias de trânsito. Interliga as regiões Centro-Sul à Pampulha e Norte de Belo Horizonte. As obras são fruto de uma parceria entre o Governo do Estado de Minas Gerais com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Iniciada em janeiro deste ano, a duplicação da avenida está em sua segunda fase, sendo que a primeira etapa do alargamento e reestruturação foi concluída em dezembro de 2008.

De acordo com a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), as obras de duplicação incluem a construção de sete viadutos, com no mínimo duas faixas por sentido, o alargamento das pistas de 25 metros para 52 metros. O processo de desapropriações já foi realizado, proporcionando expansão à avenida. Ainda segundo a Setop, estão sendo investidos, aproximadamente, R$ 250 milhões nos trabalhos da obra. Desse total, R$ 190 milhões são do Governo do Estado e R$ 60 milhões da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Um total de R$139 milhões foi investido em infraestrutura, e outros R$ 111 milhões na desapropriação de 240 imóveis.

Segundo levantamento feito pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) circulam pela avenida 85 mil veículos por dia. Com todo esse fluxo, as obras certamente irão priorizar toda a população. Além do alargamento das vias, serão implantados viadutos – o que vai promover melhoria para os motoristas que passam pelo local, aliviando o trânsito.

O aeroviário e estudante de Processos Gerenciais no Uni-BH, Leonardo de Souza Braga, de 26 anos, já foi de carro para a faculdade algumas vezes durante o período de obras. Ele usa a mesma entrada que Lívio, na Rua Francisco Soucasseaux. Não gostou muito do tráfego pesado e reclama bastante da dificuldade de acesso e da segurança. “A rua é estreita, mal sinalizada e tem riscos demais. Pedestres e carros na rua, quase não tem passeio”, conta o estudante.

Mas o que chamou a atenção do jovem é que a rua, que antes era mão única, agora permite a passagem de veículos nos dois sentidos. “Ficou horrível! A rua é estreita e não comporta mão dupla. Eles resolveram um problema com uma medida paleativa e criaram outro”.

Além disso, a rua oferece poucas vagas e quem quer estacionar com segurança tem que chegar cedo. Leonardo ainda questiona a presença da polícia. “Acho que a PM deveria estar mais presente”.
Arquivo
Prospecto mostrando 2 dos novos 7 viadutos que
estão sendo implantados na Antônio Carlos

Futuro

Em 2014, a Copa do Mundo será no Brasil e terá jogos em Belo Horizonte. As avenidas que dão acesso ao estádio Governador Magalhães Pinto – conhecido popularmente por Mineirão, e que certamente sediará alguns dos jogos – são: Cristiano Machado, Abraão Caram, Presidente Carlos Luz e a própria Presidente Antônio Carlos.

A previsão, segundo divulgado pela Prefeitura, é de que as obras da Antônio Carlos sejam concluídas em março de 2010. Até lá, a população que vive nos arredores terão que conviver com o barulho, a poeira e os transtornos de trânsito advindos da duplicação. No entanto, de acordo com a PBH, valerão a pena: ao final desta etapa, juntamente com a primeira já realizada, os cidadãos vão sentir as diferenças do projeto e das obras de excelência.

Mesmo sofrendo com os transtornos do trânsito caótico na região, a grande expectativa é de que, com a conclusão dos trabalhos, a Avenida fique mais bonita e o trânsito flua melhor. “Com certeza a vai ficar muito boa. Os transtornos existirão, mas a obra vai acabar com muitos problemas” constata o motorista Lívio.

O estudante Leonardo diz que espera o melhor da obra, mas faz ressalvas. “A expectativa é a melhor possível, mas tenho dúvidas. Acho que vai ser uma faca de dois gumes. A acessibilidade vai melhorar, mas e a segurança, iluminação? Além disso, a própria faculdade [Uni-BH] poderia oferecer estacionamentos, aí a gente não precisaria parar na rua”.

O que muda

Serão construídos novos sete viadutos. Um deles será no Complexo da Lagoinha. Ele vai ser chamado de Rio Novo, por começar na altura da rua homônima. Deve atender às ligações do Viaduto Leste e da Rua Célio de Castro com a Avenida Pedro II, além das ruas Bonfim, Itapecerica e Além Paraíba. A nova construção, que servirá para interligar as duas vias, também poderá ser acessada pelo viaduto Oeste e pela Avenida Cristiano Machado.

De acordo com o cronograma do Departamento de estradas e Rodagem (DER/MG), vinculado à Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), as obras nesse trecho devem durar até dezembro deste ano, quando o viaduto será concluído e liberado para o trânsito.

O viaduto Formiga recebe este nome, pois terá início na Rua Formiga, próximo ao conjunto Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPI). A construção deve interligar a região do bairro São Cristóvão com a dos bairros Lagoinha e Bom Jesus.

O terceiro complexo de viadutos recebe o nome da Rua Araribá. Ele vai substituir a passagem pela Antônio Carlos que hoje é feita pela Rua Jequitaí. Os bairros Bom Jesus e São Cristóvão serão ligados por meio dele, o que, segundo a Setop, criará forte impacto na região do Hospital Belo Horizonte. De acordo com o cronograma do DER/MG, as obras também serão concluídas em dezembro deste ano.

A Rua dos Operários também dá nome a um viaduto, que terá mão dupla direcional e vai fazer a ligação da rua com a Avenida Paranaíba, e os bairros Cachoeirinha e Bom Jesus com São Cristóvão e Renascença. O viaduto Operários estava previsto para ser entregue à população no final de outubro, depois da finalização da concretagem das pistas. No entanto, até hoje não está finalizado.

Um total de 140 árvores foram retiradas para a realização das obras. Em contrapartida, 1.500 mudas serão plantadas ao longo do trecho entre a Rua Operários, no Bairro Cachoeirinha, até o Complexo da Lagoinha.

Primeira etapa das obras

Iniciaram-se, em dezembro de 2004, as desapropriações. Já o trabalho das obras, efetivamente, em janeiro de 2005. A primeira etapa de revitalização da avenida Presidente Antônio Carlos foi concluída com a duplicação de 1.340 metros da avenida, entre as Ruas Viana do Castelo (altura do Viaduto São Francisco) e Aporé (altura do bairro Aparecida).

Esse trecho possui a extensão de 3,9 quilômetros, de acordo com a assessoria de comunicação da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). Recebeu investimento de R$ 150 milhões de reais, dos quais R$ 53 milhões do Governo Federal, e o restante com recursos do Governo Estadual e da Prefeitura de Belo Horizonte.

A duplicação é responsável por uma melhor mobilidade da população no trecho, que hoje possui quatro faixas de rolamento em cada lado e duas pistas centrais exclusivas para ônibus. Também fez parte dessa fase das obras a construção da Trincheira Celso Mello de Azevedo, de aproximadamente 150 metros de extensão e 34 metros de largura. A construção é responsável por ligar as regiões Nordeste e Noroeste.

No primeiro momento das obras foram gastos mais de R$30 milhões em 309 desapropriações e 322 remoções de famílias.

Reportagem: Gabriela Sthefânia (manhã) & Priscila Robini (noite)
Correção: Giovanna Ribeiro e Teani Freitas.

Um comentário:

  1. -Ortografia: arriscam;
    -Não se esqueçam de utilizar um manual para normatizar o texto;
    -Concordância: a população que vive nos arredores terá;

    Texto bem legal.

    Nota: 24/25.

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